quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Ex-militante torturada na ditadura conta sensação de voltar ao Brasil

Por MARCO ANTÔNIO MARTINS - Folha de SP 

Maria Célia Lundberg, 68, dava aulas de alfabetização para pessoas carentes em Sabará (MG) e era militante da ALN (Aliança Libertadora Nacional) quando foi presa, em 1971.
Sem nunca ter pego em armas, foi torturada e violentada por cinco dias e libertada sob ameaças. Acabou fugindo para o Chile e, depois, para a Suécia, onde vive desde 1973.
No início de outubro, voltou ao Brasil para participar da 62ª edição das Caravanas da Anistia, promovida pelo Ministério da Justiça. A comissão concedeu a ela indenização e pensão vitalícia pelas torturas no Dops, em Minas Gerais.
*
"Difícil descrever o que senti nos últimos dias antes de chegar aqui. É uma ferida profunda.
O que mais fiz nesta vida foi tentar esquecer coisas que me deixaram marcas. Não apenas no corpo, mas na alma. Os anos de estudo foram deixados para trás.
Trabalhava dando aulas de alfabetização para pessoas pobres. Alfabetizava e conscientizava o povo brasileiro utilizando o método do professor Paulo Freire.
Era da ALN (Aliança Libertadora Nacional), mas nunca peguei em armas.

Minha História: Maria Célia Lundberg

 
Daniel Marenco/Folhapress
  
Maria Célia Lundberg, 68, ex-militante da ALN (Aliança Libertadora Nacional), que foi presa e torturada pela ditadura
Acho que me prenderam porque, dias antes da prisão, em 7 de janeiro de 1971, houve um assalto em Minas Gerais e atribuíram à ALN. Invadiram a minha casa e encontraram no chão papéis da organização.
Me levaram. Fui violentada e torturada durante cinco dias. Além da dor física eu tinha outra certeza: estava só.
Eu era a única mulher ali. Sozinha em um cela.
Ouvia gritos quando era tirada de minha cela para a sala de trabalho dos policiais.
Ouvia meu irmão [Hervê] gritando enquanto sofria maus-tratos. Às vezes, nos encontrávamos no corredor enquanto eu era retirada de minha cela. Era a certeza de que ele estava vivo. Nos falávamos através do olhar.
A angústia da prisão me fez pensar em suicídio. Vou me matar e acabar com tudo. Pensei isso várias vezes. Depois pensava que não podia dar a eles o argumento que queriam. Era dar força a eles.
Depois desses dias presa no Dops, saí totalmente destruída.
Só me disseram que, se comentasse algo na rua, o meu irmão, que era mantido preso, seria morto.
Os abusos resultaram numa gravidez. Veio a seguir um aborto espontâneo.
Depois que meu irmão deixou a prisão só me restou fugir para o Chile, em 1972, onde conheci o meu companheiro e, em 1973, fui para a Suécia.
Lembro-me quando um médico sueco disse-me na chegada ao seu país, durante um exame, que nunca poderia ter um filho por causa da violência que sofri enquanto estive presa.
Deus existe. Tive dois filhos e hoje sou até avó de uma neta. Ou seja, de muitas formas tenho uma vida realizada na Suécia. Sinto até que pude fechar o capítulo da tortura com o qual sofri.
Hoje tenho o reconhecimento do Estado através da insistência da minha família e de meus amigos. Mas que fique claro que nenhuma indenização pode ressarcir o mal que o terrorismo fez a mim.
Esses terroristas nunca precisaram ser julgados. Muitos desses criminosos foram promovidos e até hoje continuam com suas regalias.
Espero que nunca mais a tortura física ou psíquica seja aplicada contra qualquer grupo ou pessoa.
Defendo a punição dessas pessoas. Agora, elas nunca devem ser punidas com a mesma moeda.
Pena meus pais não estarem vivos para acompanhar este momento. É bom voltar a pisar esse país sem o risco de ser torturada ou presa.
Sempre tive medo de voltar ao Brasil.
Vim em 2009 para sepultar a minha mãe. Ela foi sepultada e logo depois eu voltava para a Suécia.
A Suécia cuidou dos meus problemas físicos, mas nunca pude ter um bom tratamento sobre as minhas torturas psíquicas.
A única coisa que sempre quis foi voltar ao Brasil. Meus filhos falam "incluso" [inclusive] português. Mas nunca apareceram aqui porque temiam represália contra mim.
Sentia saudades de tudo. Da terra, do cheiro.
Agora penso em voltar e morrer no Brasil."

domingo, 21 de outubro de 2012

A Revolução Bolivariana segue em pé


Via Blog Jornalismo B
 
Não é por acaso que, diferentemente do que é de costume, a capa desta edição não trata diretamente de questões da mídia. A vitória de Hugo Chávez na disputa pela presidência da Venezuela é uma conquista de todos os povos conscientes de sua posição social, de sua condição de classe e da necessidade internacionalista das lutas populares. Uma vitória, inclusive, de quem trabalha pela mudança no eixo do poder midiático, pela conquista da voz pelo povo em todos os espaços de difusão da palavra.
Com todas as contradições inerentes a qualquer processo de mudança, é uma revolução o que temos na Venezuela. Se essa revolução terá prosseguimento, aprofundamento e se irá consolidar-se, depende dos passos que virão. Mas o empoderamento popular, a afirmação da soberania nacional com vistas à integração entre países e povos historicamente explorados e a paulatina mudança no eixo estatal assinam como revolucionário o processo venezuelano construído sob inspiração do Libertador Simón Bolívar.
Essa foi a décima terceira eleição desde que Chávez ganhou a presidência, em 1998, entre referendos e disputas pela presidência e por outros cargos eletivos. Venceu 12, a última com dez pontos percentuais de diferença para Henrique Capriles, candidato de todas as oposições de direita, nacionais e internacionais.
Enfrentando a grande mídia internacional, os Estados imperialistas e seus subordinados e enfrentando, como mostra farta documentação, o financiamento da CIA a organizações da oposição interna de extrema-direita, que chegou a aplicar um breve Golpe de Estado em 2002, o povo venezuelano mais uma vez bateu no peito e gritou, ecoando Bolívar: “não descansarei até que tenha libertado a minha pátria”. Gritemos juntos.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Entrevista com Jadson Oliveira, Jornalista/Blogueiro brasileiro: "Chávez sempre diz, na sua oratória arrebatada, que faz o povo venezuelano delirar, que “Chávez não sou eu, é um povo”

Um jornalista blogueiro brasileiro na Venezuela
Entrevista com Jadson Oliveira, jornalista baiano e blogueiro viajante. Desde que se aposentou, em 2007, já passou temporadas, pela ordem, em Cuba, Venezuela, Paraguai, Bolívia, Trinidad e Tobago (Caribe) e Argentina. Agora novamente Venezuela e em novembro estará em Cuba outra vez. No Brasil, passou uns tempos em Manaus, Belém/Ananindeua (quando do Fórum Social Mundial, em 2009), Curitiba e São Paulo. Sempre postando – desde que chegou pela primeira vez em Caracas em março/2008 - no blog Evidentemente, nome criado pela amiga e colega Joana D’Arck, que não só inventou o nome, mas o próprio blog.
Ananindeuadebates - Você está na Venezuela cobrindo a vida e a eleição que aconteceu no último dia 7. Está aí desde quando?
Jadson – Cheguei no início de junho, dei um pulo rápido em nossa “Salvador de Bahia”, como dizem aqui, e retornei a tempo de pegar o início oficial da campanha eleitoral em primeiro de julho.
Creio que cubro pouquíssimo (para o blog) o que o companheiro está chamando vida. Tentei, na verdade, como sempre faço por onde vivo uns meses, acompanhar a política, os movimentos sociais, as manifestações de rua, a esquerda ou as esquerdas. Aqui, no caso, vim de olho na reeleição do presidente Hugo Chávez, hoje vanguarda da luta anti-imperialista na América Latina e, portanto, homem-chave do que se pode considerar o movimento revolucionário atual.
Tento acompanhar, gosto de frisar o “tentar”, porque com os poucos recursos de um jornalista aposentado, independente, relativamente pobre, sem qualquer vínculo e subsídio de qualquer organização, faço o possível, sabendo que é muito pouco. Não tenho dinheiro para muitos deslocamentos, então fiquei somente aqui em Caracas. Poderia até ter acompanhado algumas caravanas pelo interior, aproveitando a logística do candidato, mas não deu, também é uma correria dos diabos esses esquemas presidenciais, a segurança, ainda mais com Chávez, cuja aproximação e presença deixam o povo louco.
De qualquer forma, este meu “trabalho” é meu jeito de tentar ser feliz e estar próximo dos velhos sonhos de velho comunista.
Na "Esquina Caliente" um ponto de encontro de chavistas


AD - Como foi o clima aí na Venezuela na campanha, no dia da eleição?
Jadson – Acho que deu pra passar esse clima na cobertura do blog. Vou tentar resumir em alguns toques: euforia dos chavistas nas ruas da cidade, aquela imensa “maré vermelha” em repetidas ocasiões; tensão diante de ameaças de atos de violência e desestabilização; a classe média armazenando comida em casa, porque ia acontecer “alguma coisa”; o chamado terrorismo midiático a todo vapor diante da quase certeza da vitória do presidente. A mídia privada, em torno de 80% anti-chavista, desesperada. Foi realmente uma experiência marcante pra mim, espero ter passado pelo menos boa parte da realidade para meus leitores.
AD - O chavismo virou uma ideologia? Podemos afirmar que é um socialismo bolivariano?
Jadson – Não sei, Rui, isso de conceitos assim só com os estudiosos, cientistas políticos. Chávez sempre diz, na sua oratória arrebatada, que faz o povo venezuelano delirar, que “Chávez não sou eu, é um povo”. Pra mim, na prática, chavismo, bolivarianismo, revolução bolivariana, socialismo bolivariano, socialismo do século 21, são tudo a mesma coisa, ou representa o mesmo atualmente na Venezuela: é a construção paulatina de um processo de mudança revolucionária, com participação popular, como diz Chávez: “uma revolução pacífica e democrática, mas não desarmada” (ele, como bom comandante, não esquece o trágico exemplo do Chile de Salvador Allende).
Mas essas coisas começam e ninguém sabe como vai realmente andar e acabar (não acaba, né?, as coisas da vida nunca acabam, aquela besteira de “o sonho acabou” é apenas isso, uma besteira, uma “tontería”, como dizem no espanhol).
AD - Aqui no Brasil tivemos eleição para prefeito e vereadores. Nenhum debate ideológico, nem linha política que aponte mudanças de rumos. Como vc vê as eleições no Brasil em relação à Venezuela?
Jadson – Rui, por coincidência, postei nesta segunda-feira, dia 15, uma matéria no meu blog que creio responde bem sua pergunta. Dei o título: “Socialismo: esse ilustre ausente na política brasileira”.
Companheiro, do ponto de vista revolucionário, nós estamos fudidos aí no nosso Brasilzão, atrasadíssimos (claro que isso vai mudar um dia, espero). Se vc passa uns meses, como passei, na Argentina, na Bolívia e principalmente na Venezuela, assuntando as coisas da política, vc sente isso facilmente. Como se pode fazer uma política de esquerda, supostamente pela revolução, sem mobilização popular? O povo aí, quer dizer a maioria, vota em Lula e nos candidatos de Lula, do PT, outros da esquerda (ou das esquerdas) – o que já é um pequeno consolo -, mas é só. Não há qualquer debate ideológico, político, econômico, cultural, uma calamidade, meu amigo.
Mobilização popular parece palavrão no dia-a-dia da política brasileira. Coisas como “imperialismo”, “luta de classes”, “hegemonia”, “revolução” e “socialismo” são tratadas aí na base da galhofa, motivos de piada de gente “bem pensante”.
Se algum “bem pensante” desse daí ler isso vai gozar com ar superior, mas, de fato, o que há por aqui é uma revolução em curso, daí a confrontação, a mídia alardeia que Chávez é um louco, um tirano, um ditador e muita gente “bem pensante” acredita, como se isso fosse uma opinião nascida por geração espontânea na sua própria cabeça.
O máximo que conseguimos aí foi a política de inclusão social de Lula e sua política de integração soberana na América Latina. Não digo que seja pouco, depois de 500 anos de desgraceira, foi muito. Mas nós queremos mais, temos que superar essa coisa de capitalismo, de democracia só pra quem tem dinheiro, de ditadura dos monopólios da mídia, de hegemonia do consumismo, de exaltação da riqueza individual, de violência contra os mais pobres. Queremos reforma agrária, direitos humanos, humanismo, solidariedade, fraternidade, amizade, irmandade, socialismo.   
AD - Seus artigos publicados na nossa Rede (Paradebates, Ananindeuadebates, twitter, facebook) têm colocado o clima, e também muito da campanha chavista. Fale um pouco sobre a campanha da oposição. Quantos candidatos concorreram aí na Venezuela?
AD - Jadson – Além da sua Rede e do meu blog, matérias minhas são reproduzidas no Fazendo Media: a média que a mídia faz, blog do Rio de Janeiro, e no Pilha Pura, blog de colegas jornalistas baianos. No meu blog postei algumas matérias da campanha oposicionista, especialmente cobrindo a abertura e o encerramento da campanha de Henrique Capriles em Caracas, com muitas fotos e transcrição de boa parte dos dois discursos.
Seus discursos, aliás, são bem peculiares, interessantes, por isso as transcrições. Certamente por orientação dos marqueteiros (dizem que, inclusive, norte-americanos e brasileiros, não sei se é verdade), usava frases banais (“te quero, Venezuela, há um caminho, construir uma só Venezuela, o caminho do progresso, o ônibus do progresso, o caminho do futuro, vamos acabar a insegurança, vamos industrializar o país, vamos deixar de dar de presente o petróleo à Cuba, etc, etc), e escondia seus compromissos com o programa de governo neoliberal.
Segundo os dados da campanha, fez visitas e rápidos comícios/caravanas em cerca de 300 lugares, incluindo cidades pequenas e povoados, uma verdadeira maratona. Conseguia reunir grandes multidões, não tão grandes como as de Chávez (que deve ter feito em torno de 30 caravanas/concentrações pelo país), mas realmente grandes mobilizações (os chavistas diziam que eles pagavam gente para fazer número, publiquei até uma denúncia sobre isso). No final, conseguiu perder com apenas 11% de diferença, recebeu 6,5 milhões de votos (Chávez, 8,2 milhões). Creio que se saiu bem, embora estou certo de que não são votos de Capriles, são votos anti-chavistas. O chavismo é mais forte, mas o anti-chavismo tem uma força razoável.
Houve mais quatro candidatos – eram mais seis, mas na cédula entraram somente mais quatro, acho que dois desistiram ou foram recusados por problema de documentação. São aqueles candidatos “invisíveis” que a gente não consegue nem decorar os nomes. Tiveram votação irrisória: vi nos resultados o melhor colocado com 0,5% dos votos e o pior com 0,2%. Eram dois homens e duas mulheres.
Ia até escrever uma notinha curiosa sobre a que se chama Maria Bolívar, mas desisti. Gravei o nome porque li num jornal e achei engraçado: já faltando poucos dias para a votação, ela falava da sua certeza de vitória. E antecipava que ia convidar Chávez e Capriles para compor seu ministério.
AD - Quando volta ao Brasil para tomarmos uns uísques pelos botecos de Salvador? (rss!)
Jadson – Como disse nosso grande Chico Buarque, o bom da viagem é que a gente volta. E digo eu: melhor ainda na volta é encontrar os amigos/amigas nos botecos da vida. É a parte mais prazerosa, companheiro. Mas não sei exatamente. Estarei - se o imponderável não atrapalhar - no segundo turno aí em São Paulo, vendo a vitória petista de Haddad, candidato do Lula (sabido esse nosso Lula, aprendeu a ganhar eleição depois de perder três seguidas). E, claro, gozando a derrota do Serra Malafaia.
Depois passo novembro na velha e querida Cuba, tomando ron com “uns amigos que lá deixei”. Depois não sei, mas “qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar” e tomar umas e outras, que “ninguém agüenta tanta sobriedade”, como diz uma cara amiga.
Por enquanto, ainda tenho uma semana por aqui tomando “ginebra”, que é mais barato. Vou agora mesmo tomar uma num barzinho aqui de Montalbán, que já “trabalhei” demais hoje.
No(s) vemo(s), como dizem os cubanos (e também os venezuelanos), assim engolindo o “s”.

José Dirceu: condenado pelo STF em 2012, e pela mídia hegemônica desde 2005

 

                                                       
 
Via Blog Jornalismo B  por Rodrigo Cardia*
 
O STF condenou o ex-ministro José Dirceu pelo crime de corrupção ativa, na última terça-feira. Foram oito votos a favor da condenação, e dois contrários. Porém, na prática Dirceu já estava condenado desde 2005. Já tinha sido julgado pelo quarto poder, que não existe de direito, mas sim de fato: a mídia hegemônica. Foi ela que o condenou sete anos atrás, assim como já fez em outros diversos episódios, como no caso do assassinato da menina Isabella (o casal Nardoni foi condenado pela Justiça em 2010, mas na prática já o fora em 2008, pela imprensa, antes mesmo da própria polícia chegar a uma conclusão).
As capas de alguns jornais da quarta dão uma amostra do quão satisfeita ficou a imprensa em geral pela “confirmação” de sua sentença pelo STF. Alguns veículos foram mais comedidos, já outros não conseguiram disfarçar a sensação de “dever cumprido”.
A capa mais imparcial é a do Correio Braziliense. A manchete principal é “Como fica o PT após a condenação de Dirceu”, ou seja, se propondo a fazer uma análise sobre o futuro do partido após a sentença dada a um de seus nomes mais importantes.
Reprodução Correio Braziliense
 
O Estado de S. Paulo estampou “Supremo condena Dirceu” em sua manchete, com uma foto do ex-ministro ilustrando a matéria. Suprema ironia: esta capa, de um dos raros jornais brasileiros que não escondem seu posicionamento conservador, é bem mais imparcial que as da maioria dos jornais que se dizem imparciais.
Reprodução Estadão
 
Um pouco menos comedida que a do Estadão, a capa de O Globo estampou “STF condena Dirceu por comandar o mensalão”. Com uma foto de Brasília que mostra a estátua que simboliza a Justiça, mais um arco-íris tendo como fundo nuvens de chuva, sinal de que “abriu sol” em meio a uma tempestade. Ou seja, algo positivo. Fica a pergunta: e se Dirceu tivesse sido absolvido, teríamos uma foto tão “alentadora”?
Reprodução O Globo
 
Zero Hora e Estado de Minas usam manchetes semelhantes – o jornal gaúcho usa “Condenado”, no singular, referindo-se a Dirceu (que aparece em foto com a cabeça abaixada, como um “derrotado”); já o diário mineiro usa o plural, lembrando que José Genoíno e Delúbio Soares também foram condenados (embora o destaque seja Dirceu).
Reprodução Zero Hora
 
Reprodução Estado de Minas
 
A Folha de S. Paulo, que ao contrário do Estadão se afirma “imparcial”, estampou em letras garrafais: “Culpados”, referindo-se a Dirceu (que novamente é o destaque da capa), Genoíno e Delúbio. Mais do que notícia, foi juízo de valor: muitas vezes inocentes são condenados. Ou seja, “condenado” e “culpado” não são sinônimos, por mais culpado que seja um condenado.
Reprodução Folha de S. Paulo
 
A capa da Folha, porém, é bem comedida em comparação com a do Diário de Pernambuco. Ao invés de “condenado” ou “culpado”, o jornal pernambucano diz: “Corrupto”, com a foto de Dirceu ao fundo.
Reprodução Diário de Pernambuco
Por fim, uma capa aparentemente “neutra”, mas que esconde uma “sacanagem”. O jornal A Tarde, de Salvador, tem como manchete “Dirceu é condenado por corrupção” – que é, realmente, o que aconteceu. Porém, a principal foto da capa desmonta a suposta “imparcialidade”: Joaquim Barbosa abaixo, um crucifixo acima, e no meio a chamada para a matéria no corpo do jornal – “Não perdoai-vos, Pai!”. Ou seja: para o jornal baiano, o STF tinha o dever de condenar os réus, confirmando assim a sentença dada pela imprensa há sete anos. Aliás, era o que pensava em geral a mídia hegemônica – a diferença é que A Tarde deixou isso explícito.
Reprodução A Tarde
*Historiador e blogueiro 

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

90% DOS VOTOS TOTALIZADOS: CHÁVEZ É REELEITO

Chávez na gigantesca manifestação nas ruas de Cacaras, dia 4, no encerramento da campanha eleitoral (Foto: AVN)
Por Jadson Oliveira, do blog Evidentemente:
 
De Caracas (Venezuela) - São 22:30 horas aqui neste domingo, dia 7 (meia-noite aí no Brasil). Acaba de passar por meu bairro, Montalbán, uma ruidosa caravana de carros e motos comemorando a segunda reeleição do presidente Hugo Chávez Frías, para o período de 2013 a 2019. Há uns 30 minutos pipocam fogos de artifício e bombas na capital venezuelana, desde que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE, o nosso TSE) anunciou o primeiro boletim com a totalização de 90% dos votos. Conforme as regras já estabelecidas, o CNE só soltou o primeiro boletim depois que os números já demonstram uma tendência irreversível.

Chávez está com 54,42% dos votos e Henrique Capriles Radonski, seu principal opositor, com 44,97%. A presidenta do CNE, Tibisay Lucena, anunciou também um récorde de participação do eleitorado: 80,94%. Na última eleição presidencial, em 2006, houve o comparecimento de 74% dos eleitores. 

A diferença em torno de 10 pontos percentuais entre os dois principais concorrentes era a diferença mínima prevista pelas últimas pesquisas de opinião divulgadas (a divulgação deu-se até o dia 30/setembro, conforme as regras eleitorais daqui).

Ainda conforme as regras, na Venezuela não se divulga resultado de pesquisa de boca de urna e não há segundo turno. (Os números aqui divulgados estão baseados no noticiário da estatal Agência Venezuelana de Notícias/AVN).

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

"O GOLPISTA NÃO MUDA, SEMPRE BUSCARÁ ATALHOS" (Eleição na Venezuela)

Granier, dono da RCTV, em longa entrevista, recusa-se a ver os novos tempos da revolução bolivariana (Fotos: Jadson Oliveira)
Um pouco dos jornais venezuelanos: especialmente para os brasileiros que, intoxicados pelo terrorismo da mídia hegemônica, pensam que na Venezuela do "ditador" Chávez não existe liberdade de imprensa

Por Jadson Oliveira, do blog Evidentemente

De Caracas - A manchete de primeira página é um ataque frontal ao presidente Hugo Chávez, o "golpista" que, em 4 de fevereiro de 1992, como tenente-coronel do Exército, liderou uma tentativa de golpe de Estado. De 1998 até agora ele ganhou em torno de 15 eleições democráticas, mas isso não importa... A declaração é de ninguém menos que o empresário Marcel Granier, dono da emissora RCTV, aquela que ficou famosíssima quando em 2004 não teve sua concessão renovada pelo governo de Chávez, depois de ter participado ativamente do golpe de 11 de abril de 2002 (ou tentativa, porque no dia 13 o povo e os militares resgataram o presidente). A emissora opera hoje somente a cabo.

E o jornal é La Razón, semanário radicalmente anti-chavista como se vê. A entrevista é longa, vou transcrever (traduzindo) os destaques que estão aí na primeira página, uma mostra de que para os direitistas venezuelanos os ventos da mudança vão passar a soprar para trás e tudo voltará, como num belo sonho, aos velhos "tempos dourados" (para as velhas oligarquias e o imperialismo, evidentemente, para o povo seria um pesadelo, mas isso é outro papo). Creio ser uma visão representativa de uma parte minoritária da população, principalmente entre a classe média e a burguesia.
Em campanha (edição desta quarta, dia 3): acusação manjada e repetida quase todos os dias contra Chávez e fotona de comício de Capriles
Granier, no apoio à manchete: "Essa mentalidade está aí, o veremos em 7 de outubro" (próximo domingo, a eleição presidencial, quando Chávez terá como principal opositor Henrique Capriles Radonski, governador do estado de Miranda). Mais: "Essa gente não crê nas eleições, é um grupo golpista que não crê na democracia, isso não vai mudar"; "O país quer que Chávez se vá do poder"; "O presidente e seus ministros mentem ao país"; "Chávez tornou a Venezuela mais dependente"; "Deu de presente os recursos dos venezuelanos e descuidou das reclamações territoriais".

E mais: "A tragédia financeira que se vive é consequência da aliança entre funcionários públicos e banqueiros"; "RCTV se prepara para regressar" (na esperança que Capriles ganhe); "A reconstrução do país será difícil".

La Razón é apenas um dos quatro jornais semanais encontráveis nas bancas de Caracas, todos anti-chavistas. Os outros: Quinto Dia, As verdades de Miguel e Sexto Poder. Um dado característico daqui é que não há revistas semanais influentes como no Brasil - há revistas semanais, mas sem peso político. Relativamente, os jornais semanais têm mais influência, conforme me informaram alguns jornalistas.
Relacionei 26 jornais nas bancas do centro de Caracas: 22 diários e quatro semanais: pelo menos 15 são anti-chavistas
O jornal chavista mais importante (edição desta quarta, dia 3), estatal, 100 mil exemplares por dia
Fiz um levantamento nas bancas do centro de Caracas: ao todo, além dos quatro semanários, anotei 22 jornais diários. Veja bem: são vendidos na capital, mas nem todos têm circulação nacional. Destes, pelo menos a metade são anti-chavistas. Relaciono os que recordo com manchetes e títulos de capa mais agressivos diariamente: El Nacional, El Universal, El Nuevo País, Tal Cual, 2001 e El Carabobeño (do estado de Carabobo).

Dos demais - em torno de 11 -, há três chavistas: Correo Del Orinoco é o mais forte (o chavismo resgatou o nome da publicação criada por Simón Bolívar quando da guerra contra o domínio espanhol): estatal, custa apenas 1 bolívar (o preço mais comum  aqui é 4 ou 5 bolívares), tem circulação nacional, estimada em 100 mil exemplares diários; Ciudad Caracas é editado pela prefeitura da cidade (município de Libertador, o maior dos cinco municípios que formam a capital), é distribuído gratuitamente somente em Caracas; e Diário Vea (Veja), de um grupo privado.

Dos oito restantes, mais ou menos a metade dedica-se a esportes, notícias policiais e fofocas de celebridades. A outra metade enquadra-se no que chamo "mais ou menos equilibrados" entre o chavismo e o anti-chavismo. Aí, dois merecem destaque:
O "equilíbrio" do Últimas Notícias (edição da segunda, dia primeiro): foto grande da concentração de Caprile, encima; e foto menor da de Chávez, embaixo; além disso, nunca daria manchete de capa com discurso textual do presidente.
1 - O Últimas Notícias é o mais lido do país, a estimativa que obtive foi de 300 mil exemplares por dia. É do Grupo Capriles (privado), que reúne várias outras publicações e, como se vê, da família do candidato oposicionista (daí se dizer que a direita venezuelana nesta eleição conseguiu apresentar um postulante puro sangue, representante legítimo das velhas oligarquias). Mas, de qualquer forma, não é um panfleto de propaganda da campanha de Capriles, como outros citados acima.

Perguntei a um influente jornalista venezuelano: "O quanto o Últimas Notícias é equilibrado?" Ele respondeu sem pestanejar: "É 70% contra Chávez e 30% a favor". A foto aí logo acima corrobora esta avaliação.

2 - O segundo é o Panorama, jornal muito importante de Zulia, o estado de maior população e maior peso econômico do país (por sinal que, como São Paulo, é governado pela direita). Do ponto de vista técnico-jornalístico, na minha modesta opinião, é o melhor jornal da Venezuela. Fiz a mesma pergunta ao mesmo jornalista, com referência ao Panorama. Resposta: "É o contrário, 70% a favor de Chávez e 30% contra".

Jadson Oliveira é jornalista baiano e vive viajando pelo Brasil, América Latina e Caribe. Atualmente está em Caracas (Venezuela). Mantém o blog Evidentemente - www.blogdejadson.blogspot.com . 

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

"Datafalha" e o empate técnico em SP

Por Altamiro Borges
O instituto Datafolha, do mesmo grupo empresarial que edita o jornal Folha tucana, divulgou nesta quarta-feira nova pesquisa sobre a eleição para a prefeitura de São Paulo. Sempre com a desculpa da margem de erro de "dois pontos percentuais para cima ou para baixo", ela mostra um quadro bastante embaralhado na disputa. Celso Russomanno, do PRB, com 25% das intenções de voto; José Serra, do PSDB, com 23%; e Fernando Haddad, do PT, com 19%. Uma conta simples mostra que os três estão próximos do "empate técnico", o que permite que o "Datafalha" manobre na última hora para evitar a sua total desmoralização!
 
A pesquisa, porém, tem o mérito de evidenciar que a disputa em São Paulo é das mais acirradas. Nada está definido. A batalha será decidida nesta reta final da campanha. Qualquer vacilada será fatal. Ainda é elevada a taxa de indecisos e de eleitores que admitem mudar o seu voto na última hora. A campanha nas ruas, no corpo-a-corpo, e nas redes sociais da internet definirá os dois candidatos que irão ao segundo turno na mais importante cidade do país - e que tem um peso determinante no tabuleiro político nacional.  
O "azarão" Celso Russomanno, que cresceu no vácuo político da disputa entre o PT e PSDB e apostou no eleitorado conservador de São Paulo, agora corre o risco de nem ir ao segundo turno. Em menos de uma semana, ele caiu dez pontos na pesquisa do Datafolha. Sondagens internas de outros partidos, como as do PMDB, indicam que a sua queda é ainda mais abrupta. Ele até tinha diminuído o ritmo da sua campanha, confiante que permaneceria na liderança do primeiro turno. Agora,  ele está histérico, temendo ficar de fora novamente da disputa. Até o bispo Edir Macedo resolveu assumir a campanha do candidato do PRB.
 
Já José Serra e Fernando Haddad, segundo o "Datafalha", oscilaram positivamente em um ponto percentual. Segundo a Folha tucana, "eles se mantêm na situação de empate técnico na segunda colocação". A pesquisa também confirma a taxa record de rejeição do eterno candidato do PSDB - 45% dos paulistanos afirmam que não votariam em Serra "de jeito nenhum". Já na simulação para o segundo turno, Russomanno venceria mais facilmente Serra do que Haddad. Na disputa entre os dois, que agora surge como uma hipótese real, o petista venceria o tucano por por 44% a 39%. Muita adrenalina vai rolar nestes últimos dias da campanha!

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Debate com líder seringueiro Osmarino Amâncio


Debate: A luta dos trabalhadores contra a política de destruição dos recursos naturais da Amazônia,  com a presença de Osmarino Amâncio, líder seringueiro que lutou ao lado de Chico Mendes no Acre, e Dion Monteiro, ativista e pesquisador da relação entre Capitalismo e Natureza.
O evento ocorrerá nesta quarta-feira, dia 03 de outubro, a partir das 18 horas na sede do PSTU(Av. Almirante Barroso, nº 239, entre Tv. Antônio Baena e Tv. das Mercês).