quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Artigo do Prof. Henrique Branco: 1 ano do plebiscito da divisão do Pará. O que mudou?



Prof. Henrique Branco
Há exatos um ano, o Pará decidia o seu futuro através de uma consulta popular (plebiscito) que iria decidir as dimensões territoriais do estado. Estava em pauta a criação de dois novos entes federativos no território paraense: Carajás (desmembrada das regiões sul e sudeste) e o Tapajós (oriunda das regiões oeste e noroeste).

O NÃO ganhou a votação com mais de 3,5 de votos, expressiva vitória em cima do SIM. Com isso a integridade territorial do Pará foi mantida: 1,2 milhão de km² e 144 municípios. Após um ano do plebiscito da divisão territorial ficaram as indagações: o que efetivamente mudou? O que avançou na relação entre Estado e território? E as políticas públicas? Como está o processo de integração regional?

Muitas questões a serem respondidas e pouca ação prática. De fato, nada mudou. O Estado continua concentrado, a tão prometida e esperada descentralização administrativa não ocorreu. Continuamos a governar o Pará e suas dimensões continentais restritamente de Belém.

O formato do processo de colonização da Amazônia com o Pará sendo a porta de entrada para a região provocou um intenso e descontrolado fluxo populacional que, por inércia, trouxe consigo as atividades econômicas. Isso provocou uma deformação territorial, com a conveniência e inércia do Estado. O retrato está posto: um Estado que reúne outros estados dentro de si.

Na verdade e de forma prática o estado do Pará já está dividido. O plebiscito só teria a função de oficializar o processo. As novas dinâmicas econômicas tornaram as regiões paraenses autônomas do ponto de vista financeiro, sustentando uma capital que sobrevive da atividade terciária (comércio e serviços). Essa é a maior revindicação, por exemplo, da região de Carajás, que afirmam em auto e bom som que sustentam Belém, pois geram muitos recursos da extração mineral, mas os investimentos em saúde, educação, saneamento, etc., não acompanham a geração de divisas ao Estado. Esse discurso é verdadeiro, não uma fantasia verbal.

No fim do plebiscito com a vitória do NÃO, escrevi longo texto (que pode ser lido neste blog através do campo de pesquisa) sobre o pós-plebiscito. O que teria que ser feito por parte do governo estadual para demonstrar as regiões que buscavam a emancipação, que a divisão não era a melhor alternativa.

Esperava-se do governo do Estado um plano de ação rápido. Uma agenda desenvolvimentista em conjunto com a Assembleia Legislativa do Pará com amplo pacto de ações de políticas públicas que fomentassem o desenvolvimento regional, especialmente as áreas que defendiam a separação.

Se olharmos o PPA (Plano Plurianual) do governo do Estado para o exercício do corrente ano, e o esboço do de 2013, perceberemos que os recursos continuam centralizados na RMB e seus arredores. Não a diretrizes orçamentárias que visem relocar os recursos para as regiões que buscam o desmembramento. Ou seja, nada – de fato mudou.

Sobre esse processo na qual vive o Pará (o processo eleitoral terminou, mas a luta da divisão continua) sempre mantive a minha posição contrária ao processo de desmembramento territorial do Pará. Penso que – ainda – essa divisão não é a melhor alternativa. Reconheço a luta das populações dessas regiões pela criação do próprio estado, da afirmação da ausência do governo estadual. Em contrapartida cobro uma ação desenvolvimentista do governo do Estado que contemple todas as regiões, buscando diminuir as colossais diferenças, que alimentam todos os dias corações e mentes em busca da divisão territorial e a criação de novos entes federativos.


terça-feira, 27 de novembro de 2012

DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO: CONQUISTA DA MULHER CUBANA DESDE A VITÓRIA DA REVOLUÇÃO

Xiomara González: importância da capacitação da população e os cuidados com a saúde da mãe (Foto: Jadson Oliveira)

Por Jadson Oliveira do Blog Evidentemente direto de Cuba

De Havana (Cuba) – A descriminalização do aborto, um direito pelo qual lutam as mulheres da América Latina e que acabou de ser reconhecido no Uruguai, é uma já velha conquista das cubanas, desde o início da década de 60 do século passado, com a institucionalização da revolução socialista após a vitória dos guerrilheiros comandados por Fidel Castro em 1º. de janeiro de 1959. Pode-se dizer que foi um “parto natural” no bojo dos avanços sociais garantidos em conseqüência do triunfo revolucionário, em benefício especialmente das camadas mais pobres da população, ou seja, da grande maioria.

 

Xiomara González, engenheira com mestrado em Comunicação Social, que é delegada da Federação das Mulheres Cubana (FMC), no bairro de Príncipe, em Havana, informa que se trata de uma questão inserida na política de saúde pública, cuja assistência em Cuba, como se sabe, é totalmente gratuita. É um item no capítulo da emancipação da mulher, como vários outros itens assegurando a educação dos filhos, a incorporação ao trabalho em igualdade de condições com os homens, com destaque aí para as mulheres camponesas, etc, etc.

 

“É um direito da mulher decidir e planejar sua descendência”, diz a representante da FMC ao lembrar a regulamentação contida no Código da Família. As mulheres grávidas são atendidas na rede de hospitais maternos e, nos casos de solteiras e de menores de idade, merecem um tratamento especial das assistentes sociais. Ela frisou a importância da capacitação da população e os cuidados com a saúde da mãe ao se decidir pela interrupção da gravidez.

 

No Brasil predomina o império da hipocrisia

 

Apesar de ser uma conquista já antiga em Cuba, a descriminalização do aborto na América Latina é um sonho ainda bem distante de se tornar realidade. Conforme noticiou o jornal argentino Página/12, edição de 18 de outubro último, o Uruguai veio se juntar a um pequenino grupo de países que reconhece o direito – racionalmente elementar – da mulher decidir o que fazer do seu próprio corpo. Além dos dois, apenas mais dois “latino-americanos”: a Guiana (antiga colônia inglesa, tem portanto o inglês como idioma) e o Porto Rico, que fala espanhol, mas é uma “colônia” dos Estados Unidos.

 

Países como o Brasil e a Argentina, mais desenvolvidos pelo menos do ponto de vista da economia capitalista, continuam atrasados nessa questão, sendo que as entidades feministas argentinas têm avançado mais nos debates e mobilizações. No Brasil não se vê qualquer avanço: ao contrário, na última eleição presidencial (2010) houve uma tenebrosa discussão do assunto, com a prevalência de posições medievais de setores religiosos, na busca de vantagens eleitorais para o candidato mais à direita (no caso, José Serra, do PSDB, que incorporou bandeiras ultra-direitistas na tentativa desesperada de vencer o pleito).

 

(Atente para o absurdo: as entidades que defendem a descriminalização não pedem uma legislação que mande fazer aborto ou obrigue a fazer aborto. Não. Defendem simplesmente que possa fazer aborto quem optar pelo aborto, uma decisão pessoal, sem criminalização. E com assistência médica do serviço público de saúde – uma questão de saúde pública -, para evitar que as mulheres pobres, ou seja, a grande maioria, morram ou sejam estropiadas em lugares clandestinos e precários. Na verdade, predomina o império da hipocrisia, próprio do capitalismo: quem tem dinheiro faz aborto sem qualquer risco, quem não tem se fode).

 

Chile ainda sob a legislação de Pinochet

 

Ainda sobre a América Latina e de acordo com a matéria do Página/12, o México tem uma situação peculiar: cada estado conta com seu Código Penal e todos permitem o aborto em casos de violação. Já no Distrito Federal (Cidade do México), desde 2007 foi autorizado o aborto até a 12ª. semana de gestação, com acesso ao serviço público de saúde. Segundo dados difundidos em abril último, na capital mexicana mais de 77 mil mulheres solicitaram abortar sob o amparo da lei.

 

Na Colômbia, a Corte Suprema sentenciou em 2006 como não puníveis os abortos nos casos de gravidez por violação, má formação do feto e risco de vida da mãe, mas o Congresso colombiano está dividido diante da decisão judicial.


Chile e Surinam – ainda conforme o jornal argentino – são os únicos países sul-americanos que punem a interrupção da gravidez em todos os casos. Em 2012, o Senado chileno rejeitou três projetos de lei que propunham restabelecer o aborto terapêutico, suprimido em 1989 pelo ditador Augusto Pinochet. El Salvador, Haiti, Honduras, Nicarágua e República Dominicana completam o grupo de sete países onde o aborto está totalmente proibido.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

NOAM CHOMSKY E COLEGAS DENUNCIAM COBERTURA DA MÍDIA SOBRE GAZA



A cobertura da mídia sobre Gaza: nós sabemos!

Do Portal Vermelho, de 18/11/2012

Em texto manifesto, linguistas denunciam a manipulação do noticiário pela grande imprensa para camuflar o massacre do povo palestino, apelam a jornalistas para que não sirvam de joguetes e para que as pessoas se informem pela mídia independente. Entre os signatários, Noam Chomsky (foto). Confira a íntegra:

Enquanto países na Europa e América do Norte relembravam as baixas militares das guerras presentes e passadas, em 11 de Novembro, Israel estava alvejando civis. Em 12 de novembro, leitores que acordavam para uma nova semana tiveram já no café da manhã o coração dilacerado pelos incontáveis relatos das baixas militares passadas e presentes.

Não havia, porém, nenhuma ou quase nenhuma menção ao fato de que a maioria das baixas das guerras modernas de hoje são civis. Era também difícil alguma menção, nessa manhã de 12 de novembro, aos ataques militares à Gaza, que continuaram pelo final de semana. Um exame superficial comprova isso na CBC do Canada, Globe and mail, na Gazette de Montreal e na Toronto Star. A mesma coisa no New York Times e na BBC.

De acordo com o relato do Centro Palestino para os Direitos Humanos (PCHR, pela sigla em inglês) de domingo, 11 de Novembro, cinco palestinos, entre eles três crianças, foram assassinados na Faixa de Gaza, nas 72 horas anteriores, além de dois seguranças. Quatro das mortes resultaram das granadas de artilharia disparadas pelos militares israelenses contra jovens que jogavam futebol. Além disso, 52 civis foram feridos, seis dos quais eram mulheres e 12 crianças. (Desde que este texto começou a ser escrito, o número de mortos palestinos subiu, e continua a aumentar.)

Artigos que relatam os assassinatos destacam esmagadoramente a morte de seguranças palestinos. Por exemplo, um artigo da Associated Press publicado no CBC em 13 de novembro, intitulado “Israel estuda retomada dos assassinatos de militantes de Gaza”, não menciona absolutamente nada de civis mortos e feridos. Ele retrata as mortes como alvos “assassinados”. O fato de que as mortes têm sido, na imensa maioria, de civis, mostra que Israel não está tão engajado em “alvos” quanto em assassinatos “coletivos”. Assim, mais uma vez, comete o crime de punição coletiva.

Outra notícia de AP na CBC de 12 de novembro diz que os foguetes de Gaza aumentam a pressão sobre o governo de Israel. Traz a foto de uma mulher israelense olhando um buraco no teto de sua sala. Novamente, não há imagens, nem menção às numerosas vítimas sangrando ou cadáveres em Gaza. Na mesma linha, a manchete da BBC diz que Israel é atingido por rajadas de foguetes vindos de Gaza. A mesma tendência pode ser vista nos grandes jornais da Europa.

A maioria esmagadora das notícias enfatizam que os foguetes foram lançados de Gaza, nenhum dos quais causaram vítimas humanas. O que não está em foco são os bombardeios sobre Gaza, que resultaram em numerosas vítimas graves e fatais. Não é preciso ser um especialista em ciências da mídia para entender que estamos, na melhor das hipóteses, diante de relatos distorcidos e de má qualidade e, na pior, de manipulação propositadamente desonesta.

Além disso, os artigos que se referem a vítimas palestinas em Gaza relatam consistentemente que as operações israelenses se dão em resposta ao lançamento de foguetes a partir de Gaza e à lesão de soldados israelenses. No entanto, a cronologia dos eventos do recente surto começou em 5 de novembro, quando um inocente, aparentemente mentalmente incapaz, homem de 20 anos, Ahmad al-Nabaheen, foi baleado quando passeava perto da fronteira. Os médicos tiveram que esperar seis horas até serem autorizados a buscá-lo. Eles suspeitam que o homem pode ter morrido por causa desse atraso. Depois, em 08 de novembro, um menino de 13 anos que jogava futebol em frente de sua casa foi morto por fogo do IOF, que chegou ao território de Gaza em tanques e helicópteros. O ferimento de quatro soldados israelenses na fronteira em 10 de novembro, portanto, já era parte de uma cadeia de eventos que começou quando os civis de Gaza foram mortos.

Nós, os signatários, voltamos recentemente de uma visita à Faixa de Gaza. Alguns de nós estamos agora conectados aos palestinos que vivem em Gaza através de mídias sociais. Por duas noites seguidas, palestinos em Gaza foram impedidos de dormir pela movimentação contínua de drones, F16, e bombardeios indiscriminados sobre vários alvos na densamente povoada Faixa de Gaza . A intenção clara é de aterrorizar a população, e com sucesso, como podemos verificar a partir de relatos dos nossos amigos. Se não fosse pelas postagens no Facebook, não estaríamos conscientes do grau de terror sentido pelos simples civis palestinos em Gaza. Isto contrasta totalmente com a consciência mundial sobre cidadãos israelenses chocados e aterrorizados.

O trecho de um relato enviado por um médico canadense que esteve em Gaza, servindo no hospital Shifa ER no final de semana, diz: “os feridos eram todos civis, com várias perfurações por estilhaços: lesões cerebrais, lesões no pescoço, tamponamento cardíaco, ruptura do baço, perfurações intestinais, membros estraçalhados, amputações traumáticas. Tudo isso sem monitores, poucos estetoscópios, uma máquina de ultra-som. (…) Muitas pessoas com ferimentos graves, mas sem a vida ameaçada foram mandadas para casa para ser reavaliadas na parte da manhã, devido ao grande volume de baixas. Os ferimentos por estilhaços penetrantes eram assustadores. Pequenas feridas com grandes ferimentos internos. Havia muito pouca morfina para analgesia.”

Aparentemente, tais cenas não são interessantes para o New York Times, a CBC, ou a BBC.

Preconceito e desonestidade com relação à opressão dos palestinos não é nada novo na mídia ocidental e tem sido amplamente documentado. No entanto, Israel continua seus crimes contra a humanidade com a anuência plena e apoio financeiro, militar e moral de nossos governos, os EUA, o Canadá e a União Europeia. Netanyahu está ganhando apoio diplomático ocidental para operações adicionais em Gaza, que nos fazem temer que outra operação Cast Lead esteja no horizonte. Na verdade, os novos acontecimentos são a confirmação de que tal escalada já começou, como a contabilização das mortes de hoje que aumenta.

A falta generalizada de indignação pública a estes crimes é uma conseqüência direta do modo sistemático como os fatos são retidos ou da maneira distorcida que esses crimes são retratados.

Queremos expressar nossa indignação com a cobertura repreensível desses atos pela mainstream mídia (grande imprensa corporativa). Apelamos aos jornalistas de todo o mundo que trabalham nessas mídias que se recusem a servir de instrumentos dessa política sistemática de camuflagem. Apelamos aos cidadãos para que se informem através de meios de comunicação independentes, e exprimam a sua consciência por qualquer meio que lhes seja acessível.


Hagit Borer, linguista, Queen Mary University of London (UK)
Antoine Bustros, compositor e escritor, Montreal (Canadá)
Noam Chomsky, linguista, Massachussetts Institute of Technology, USA
David Heap, linguista, University of Western Ontario (Canadá)
Stephanie Kelly, linguista, University of Western Ontario (Canadá)
Máire Noonan, linguista, McGill University (Canadá)
Philippe Prévost, linguista, University of Tours (França)
Verena Stresing, bioquímico, University of Nantes (França)
Laurie Tuller, linguista, University of Tours (França)

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Camponeses se unem para contar a verdade sobre o Araguaia

 
Via Correio do Brasil

A luta para contar a história dos camponeses, mateiros, índios e guerrilheiros do Araguaia é hoje o desafio travado na região de Marabá, no sul do Pará. Apenas na cidade de São Domingos do Araguaia mais de 70 camponeses aguardam os julgamentos de seus processos de anistia.

Por Mariana Viel, de Marabá (PA), especial para o Vermelho
Além da reparação material, os camponeses esperam para contar ao Brasil a verdade sobre as torturas cometidas por agentes da ditadura militar durante a repressão à Guerrilha do Araguaia (1972-1975).
No começo da noite desta quarta-feira (14), cerca de 50 camponeses acompanharam uma reunião organizada pela Associação dos Torturados na Guerrilha do Araguaia (ATGA). Durante o encontro o presidente da ATGA, Sezostrys Alves da Costa, fez um informativo sobre o andamento dos processos de reparação dos camponeses torturados. A previsão é que o julgamento em bloco das ações de reparação seja realizado por uma Caravana da Comissão de Anistia no começo de 2013.
O aposentado Antônio Abdias, preso e torturado por militares no verão de 1974, faz parte do grupo que espera o restabelecimento da verdade. Ele conta que durante as 48 horas em que esteve nas mãos militares sofreu as mais diversas formas de torturas físicas e psicológicas. Amarrado a uma camionete do Exército brasileiro – sem roupa e calçado – ele e outros camponeses da região foram arrastados pelo chão de terra. Antônio relata que teve as solas dos pés arrancadas e um braço quebrado nas sessões de torturas. Ele também perdeu 55% da audição em virtude dos golpes que levou na cabeça.
“Muita gente que eu conheço que sofreu naquela época já até morreu e não recebeu nada. A riqueza do homem trabalhador, como eu sempre fui, é o moral e isso não tem preço, mas acredito que nós vamos receber aquilo que temos direito”.
Audiência pública
O representante do PCdoB no Grupo de Trabalho Araguaia (GTA) e membro do Comitê Paraense pela Memória, Verdade, Paulo Fonteles Filho, ressaltou a importância da união dos camponeses. No próximo sábado (17) será realizada em Marabá uma audiência pública da Comissão Nacional da Verdade para que os camponeses atingidos pela repressão possam relatar as histórias de luta e sofrimento. “Falamos que as torturas, a pressão e as ameaças aqui foram grandes, então temos que contar para eles essas histórias para que as pessoas sejam anistiadas e reparadas. Quem mais apanhou e sofreu com a ditadura militar foram os camponeses. O legado dos guerrilheiros é um patrimônio do povo do Araguaia e essas histórias precisam ser escritas”.
Através dos depoimentos e do trabalho de pesquisa na região calculasse que mais de 350 camponeses perderam as vidas nesse processo de repressão.
Além da participação de camponeses, indígenas e militantes de direitos humanos, integrarão o encontro os representantes da Comissão Nacional da Verdade, Maria Rita Kehl, Claudio Fonteles e Paulo Sérgio Pinheiro.
A ATGA irá disponibilizar três ônibus para que os camponeses de São Domingos do Araguaia e de São Geraldo do Araguaia e indígenas da tribo Suruí possam participar do evento. Moradores de outras cidades da região como Palestina do Pará e Brejo Grande também estão mobilizadas.
Outra frente de luta na região é pela localização dos restos mortais dos guerrilheiros assassinados pelo Exército. Informações recentes de ex-militares indicam que cerca de 14 ossadas de desaparecidos políticos estão enterradas no cemitério Jardim da Saudade, em Marabá.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Movimento Esculacho do Pará, vão fazer manifestação para denunciar colaboradores da Ditadura Militar

 Membros do Movimento Esculacho do Pará realizarão manifestação em frente a órgãos, residências e estabelecimentos comerciais, onde trabalham ou residem militares e civis que participaram ou colaboraram com a ditadura militar no período de 1964 a 1985. Estão na mira dois ex-governadores (Jarbas Passarinho, colunista de O Liberal, e Alacid Nunes), e militares que atuaram na ditadura no Pará e em outros estados. Os integrantes do movimento receberam uma informação que um capitão do Exército que atuou na repressão e foi membro o SNI trabalha na Secretaria de Segurança Pública do Pará. O Movimento Esculacho é formado por estudantes, sindicalistas, profissionais liberais e ex-militantes políticos perseguidos pela ditadura.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Bloqueio midiático: três repórteres gaúchos em Cuba, nenhuma nota sobre as eleições cubanas


 
Via Blog Jornalismo B
Dois dias antes das eleições norte-americanas, marcadas para essa terça-feira, tivemos, no domingo, o segundo turno do processo eleitoral cubano. A gigantesca cobertura da grande mídia brasileira sobre a disputa entre Obama e Romney nos EUA contrapõe o silêncio absoluto a respeito do que está acontecendo em Cuba, com a escolha dos candidatos pelo próprio povo e a posterior eleição, na qual a quase totalidade dos cidadãos comparece às urnas, mesmo sem que o voto seja obrigatório.
No que se refere aos jornais do Rio Grande do Sul há ainda um agravante nesse criminoso bloqueio midiático à realidade cubana. Estão em Cuba, nesse momento, três repórteres de veículos gaúchos – Rosane de Oliveira, de Zero Hora, Juremir Machado, do Correio do Povo e Oziris Marins, da Band. Eles acompanham missão do Governo do Estado, em que diversos empresários foram levados pelo governador Tarso Genro para iniciarem relações com Cuba. Mesmo com essa presença de três jornalistas não saiu sequer uma nota nos veículos lá representados a respeito do processo eleitoral.
O Correio do Povo dedicou quase uma página inteira às conversas entre empresários gaúchos e o governo cubano (muito espaço para o padrão do jornal), enquanto Zero Hora fez o mesmo em três páginas. Absolutamente nada sobre a eleição. Quer dizer, não faltou espaço para falar de Cuba, mas foi um espaço destinado apenas às vantagens econômicas que os empresários gaúchos podem tirar dessa visita. Em sua coluna Juremir escreveu sobre seu contato com o povo cubano, e, em algumas notas pontuadas por erros de informação – causados, em parte, por pura má vontade e cinismo – Rosane de Oliveira foi um pouco além das ações do empresariado – mas muito pouco. Nada sobre o segundo turno eleitoral, mantido no domingo apesar da destruição causada pelo furacão Sandy – sobre a qual também não se falou nesse setor da mídia.
 O silêncio sobre a existência de eleições em Cuba é mais uma tentativa de manter o imaginário do brasileiro médio sobre a “ditadura sanguinária” que, segundo as oligarquias internacionais, existe em Cuba desde 1959, quando a Revolução Cubana chegou ao poder. Ainda que Juremir Machado certamente não pense assim, o Correio do Povo, para o qual escreve, nada publicou sobre o democrático e limpo processo eleitoral cubano, assim como o fez Zero Hora – cuja representante, Rosane de Oliveira, mostra em seus escritos mais pessoais, chamados de “Diário de Havana”, seu preconceito latente e seu olhar enviesado sobre a realidade cubana.
O silêncio é um dos instrumentos fundamentais do bloqueio midiático armado sobre Cuba como complemento necessário ao bloqueio econômico estadunidense. Casos como esse tornam ainda mais flagrantes os ataques ao direito de informação e à responsabilidade e à ética jornalística, resultados e alimentos de um modelo midiático mais comprometido com interesses financeiros do que com a verdade e o jornalismo.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

CORREA DEVE SER REELEITO NO EQUADOR: O SEGUNDO COLOCADO É “NENHUM”, COM 15,8%

Correa mantém uma identificação estreita com presidentes sul-americanos mais à esquerda, como Chávez e Evo Morales (Foto: Agência ANDES)
A eleição será em 17 de fevereiro e Rafael Correa aparece em pesquisa com 61,7% das intenções de voto: é mais um presidente latino-americano amado pela maioria do povo e odiado pelos monopólios da mídia hegemônica

Por Jadson Oliveira - do blog Evidentemente

De São Paulo (SP) – O presidente equatoriano Rafael Correa tem todas as chances de ser reeleito nas eleições já convocadas oficialmente para 17 de fevereiro de 2013. Em pesquisa feita pelo instituto Perfis de Opinião, divulgada pelo jornal estatal El Ciudadano, ele lidera as intenções de voto com 61,7%. Foi apresentada aos entrevistados uma lista de nomes, com a pergunta: “Se as eleições para presidente do Equador fossem hoje e se apresentassem estes candidatos, em quem você votaria?” Depois do presidente, a opção que ficou em segundo lugar foi “Nenhum”, com 15,8%.    

A pesquisa foi realizada em Quito (capital equatoriana) e Guayaquil (a maior cidade do país), nos dias 29 e 30 de setembro último, com 613 entrevistas. Entraram na lista, além de outros menos votados: o banqueiro Guillermo Lasso, que ficou com 12,6% das preferências, e o ex-presidente Lucio Gutiérrez (assumiu em 2003 e foi derrubado por um golpe em 2005), com 3,6%.

Também foi perguntado se se consideram “correístas” ou “anti-correístas”: 70,8% descartaram as duas opções; 24% responderam que eram “correístas”, e 5,2%, “anti-correístas”. 72,8% confiam no mandatário equatoriano, enquanto 26,8% não confiam. Sobre o combate à corrupção, 80,4% avalizam a luta do governo e 19,7% não.

Os equatorianos elegerão o presidente e seu vice e mais 137 legisladores que integrarão a Assembleia (Congresso) Nacional (como na Venezuela e ao contrário do Brasil, não há Senado). Há normas ainda pendentes de regulamentação pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), em conformidade com a legislação mais recente. São 11,6 milhões de eleitores numa população de mais de 14 milhões. Os candidatos devem se inscrever em 15 de novembro. Partidos de esquerda têm como certo que marcharão com Correa, embora, formalmente, o presidente declare que seu movimento político – Aliança País – ainda vai decidir.
O líder equatoriano, desde 2007 na presidência, tem alto índice de popularidade (Foto: EFE/VTV)
Rafael Correa, 49 anos, economista com cursos de pós-graduação na Bélgica e nos Estados Unidos, está na presidência desde 2007. Com a chamada Revolução Cidadã, tem uma identificação muito estreita com presidentes de esquerda da região, especialmente com Hugo Chávez, da Venezuela (Revolução Bolivariana), e Evo Morales, da Bolívia (Revolução Democrática e Cultural). São populares – chamados “populistas” pela direita -, executam políticas de inclusão dos mais pobres, são inimigos das oligarquias locais e alvos preferenciais na América Latina do império estadunidense. Os três já enfrentaram tentativas de golpe de Estado.
 
E como decorrência de tais posições, obviamente, são vilões no dia-a-dia do terrorismo midiático: travam uma luta diária com os monopólios da imprensa hegemônica (no Brasil e internacionalmente), que só veem coisas negativas na ação de tais governantes. Nessa chamada guerra de quarta geração, o foco maior é sobre Chávez, mas Correa tem se destacado muito nessa briga. Ataques e contra-ataques não faltam: recentemente, por exemplo, o presidente equatoriano proibiu seus ministros de darem informações aos meios privados de comunicação.
 
“Não vamos dar informação a essas empresas corruptas que não pagam impostos”, explicou o presidente equatoriano, dizendo que alguns meios de comunicação do seu país e da América Latina "abusam do seu poder midiático". "Não vamos dar mais lucro e mais poder" a essas empresas, endureceu. Insistiu que seu governo respeita os direitos da informação, mas  não tolerará a "liberdade para a extorsão".
 
Expulsando ONGs estrangeiras
 
Outro episódio recente que mostra o zelo do governo por manter sua soberania, diante das ingerências estrangeiras, em especial do império estadunidense, foi que 26 ONGs estrangeiras (Organizações Não Governamentais) tiveram cancelada sua permissão de atuação no Equador. Dentre elas, nove eram dos Estados Unidos.

Correa denunciou que havia ONGs que não informavam sobre seus recursos financeiros e muitas delas não cumpriam a legislação e a finalidade a que se destinavam. Pelo contrário, disse, se dedicavam a fazer política no país. Antes da publicação do decreto que cancelou as permissões, ele havia declarado que algumas ONGs são de extrema direita, em sua maioria estadunidenses, e que trabalham para desestabilizar os governos progressistas. Acrescentou que outras que atuam na fronteira norte são cúmplices de grupos irregulares.

(A maioria das informações acima estão baseadas no noticiário dos sítios Aporrea.org, Venezuelana de Televisão - VTV, e TV Telesur).
 
Jadson Oliveira é jornalista baiano e vive viajando pelo Brasil, América Latina e Caribre. Depois da Venezuela, está em São Paulo e já embarcando este final de semana para Cuba. Mantém o blog Evidentemente - www.blogdejadson.blogspot.com .