Carolina Montenegro De Genebra, para a BBC Brasil
Jovens mascarados e vestidos de preto
andam em grupo no meio de protestos. Portam bandeiras negras ou
símbolos anarquistas, quebram vidraças, entram em confronto com a
polícia e embora não possuam líderança clara, têm nome definido: Black
Blocs.
Essa poderia ser uma cena vista no Brasil, no
Egito, na Turquia, na Grécia, nos Estados Unidos ou em qualquer outro
lugar do mundo.
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Para Francis Dupuis-Déri, professor de ciência política da UQAM (Université du Québec à Montréal) e autor do livro Les Black Blocs, a internet e a crescente insatisfação com os governos e a economia impulsionam o movimento.
"Os Black Blocs são fáceis de identificar, eles
usam roupas específicas. É algo simples de ser reproduzido. Alguém pode
vê-los na TV e imitá-los. Acredito que a internet também tenha um papel
crucial", disse.
De acordo com Dupuis-Déri, que pesquisa os grupos há dez anos, a internet se tornou o seu principal canal de comunicação porque permite que os grupos interajam rapidamente e organizem protestos.
"Os Black Blocs não são uma organização
permanente. Pelo caráter anarquista desses grupos, eles não têm um líder
ou um representante para falar com o governo, por exemplo. Antes e
depois de uma manifestação, eles não existem", explicou.
No Brasil, como em outras partes, os Black Blocs
usam o Facebook para postar vídeos, fotos e organizar atos. Foi por
meio do perfil Black Bloc Egypt que jovens egípcios convocaram ataques
ao palácio presencial e o fechamento de pontes no Cairo.
Identificando-se apenas como Morro, um dos administradores
da página egípcia contou à BBC Brasil que o grupo já se reunia há dois
anos para protestar. "Primeiro, pensamos em formar um movimento
hooligan, mas depois vimos vídeos e Black Blocs na Grécia e nos
inspiramos", disse.
As táticas violentas dos Black Blocs no Egito foram duramente reprimidas pelas forças de segurança. Ao menos três membros do grupo foram mortos e dezenas estão presos. Atualmente, o grupo tem presença tímida nas manifestações.
Assim como no Brasil, onde Black Blocs têm
depredado agências bancárias e concessionárias de carro, no Egito o
grupo provocou a desconfiança do público e de outros manifestantes.
"A maior parte das pessoas no Egito tem medo
deles, acha que são vândalos ou bandidos", afirmou a ativista egípcia
Nihal Zaghloul.
Tática
Surgida nos anos 1980 na Alemanha no âmbito dos
movimentos de contra-cultura e em defesa dos squats, a tática de
protesto Black Bloc originalmente pode ou não usar a violência e tem
alvos específicos, como agências bancárias.
Da década de 1990 em diante, a técnica Black
Bloc se espalhou pelas cenas anarquistas, punk, anti-facistas e
ecológicas. E ganhou força em mobilizações contra o neoliberalismo e o
capitalismo, como na reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC) em
1999, em Seattle, em 2001, em Roma, ou durante a reunião do G20 em
Toronto, em 2010.
Segundo Dupuis-Déri, os Black Blocs são em geral indivíduos com ativa participação política no dia a dia.
Os Black Blocs que participaram dos protestos de
2012 no Quèbéc, Canadá, se disseram "estudantes, trabalhadores,
desempregados e revoltados", no "Manifeste du Carré Noir", que fizeram
circular na internet.
Recentemente, grupos Black Blocs atuaram em diferentes protestos contra os governos na Grécia, na Turquia, no Chile e no México.
"Os Black Blocs são sintomáticos de uma
crescente insatisfação mundial com os governos e o sistema econômico. A
violência em um movimento social sempre tende a assustar e afastar as
pessoas, isso é senso comum. Mas há casos em que a violência chamou a
atenção da mídia, levantou um debate público, denunciou repressões",
explicou o cientista político.
Violência
Movimentos como os protestos de Seattle fizeram
conhecida a face violenta desses grupos, mas a violência "não é
necessariamente usada pelos Black Blocs", diz o professor de ciência
política canadense.
"Os atos violentos são dirigidos a alvos
determinados como as forças de segurança e os bancos. Casos de furtos ou
roubos não são comuns".
O acadêmico lembra também que a violência é uma constante histórica em lutas de movimentos sociais e revoluções.
"Mesmo o movimento feminista pelo direito ao voto no início do século 20 viu momentos de violência", diz Dupuis-Déri.
Em 1911, centenas de mulheres saíram às ruas de
Londres em protesto e quebraram janelas e vitrines no centro comercial
da cidade. A então líder do movimento feminista Emmeline Pankhurst disse
que "o argumento da vidraça quebrada era o argumento mais valorizado na
política moderna".
Depois da prisão em massa das ativistas ela
ainda alegou que "elas tinham tentado tudo – protestos e reuniões — mas
nada funcionara".
Nós estamos numa Democracia consolidada , não mais espaço para esse tipo de banditismo , para se defender a democracia que tanto lutamos para conquistar ; tem que ter resistência a altura, para esses bandidos sem rostos: prisão, porrada e na ultima instância bala pela policia
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