terça-feira, 18 de dezembro de 2012

BERNHAR GOBBI: “OS CUBANOS TÊM UMA VISÃO MAIS REALISTA DA FRATERNIDADE E UNIÃO”

Bernhar, jovem engenheiro "bicicleteiro", na Rua Neptuno, em Vedado, Havana: "Os brasileiros, escravos da mídia direitista, muito provavelmente continuarão ignorando o que é possuir um governo que realmente se preocupa com educação, saúde, segurança" (Fotos: Jadson Oliveira)
Acesso ao mínimo para viver, pequenas escolas por todo canto, recepção, consumismo, assédio aos turistas, Ato de Ajuste Cubano, bloqueio, reformas, segurança, futuro do socialismo: jovem engenheiro “bicicleteiro” brasileiro opina sobre a realidade de Cuba e diz o muito que gostou e o pouco que não gostou nos 17 dias que passou na ilha.

Por Jadson Oliveira, do blog Evidentemente

De Salvador (Bahia) - Bernhar Gobbi Rocha Coimbra, 31 anos, goianiense, filho de baiano de Correntina com goiana de Itumbiara, solteiro, engenheiro de computação, trabalha no Ministério das Cidades em Brasília, participa há quatro anos do grupo “bicicletada”, um coletivo horizontal derivado do movimento Critical Mass, surgido em San Francisco, Califórnia, com o objetivo de debater o uso da bicicleta em detrimento do uso do carro, principalmente para deslocamentos curtos. Não tem militância político-partidária, mas é simpatizante do PCB (Partido Comunista Brasileiro) pelo alinhamento ideológico, partido que tem hoje uma linha política bem à esquerda, ao contrário do antigo chamado Partidão.

Esteve 17 dias em Cuba, entre 21/out/2012 e 07/nov/2012, percorrendo a porção cubana abrangendo Havana e a porção mais a oeste da ilha, para se manter afastado da zona de influência do furação Sandy, que castigou a parte oriental do país naquele período (as províncias – estados – mais atingidas foram Holguín e Santiago de Cuba).

Na entrevista, concedida a este blog por escrito (as perguntas foram formuladas em Havana e respondidas e editadas já no Brasil), o jovem engenheiro “bicicleteiro” brasileiro fala das suas impressões sobre Cuba, dizendo-se surpreendido “pela cordialidade e alegria, pela inteligência e solidariedade” do povo cubano. Discorre sobre o que mais lhe agradou e o que mais lhe desagradou. E conclui: “Cuba é linda. Os cubanos são parecidos com os brasileiros, apenas têm uma visão mais realista da fraternidade e união, do que é um governo para o povo. Aos brasileiros, resta apenas o carnaval, o pão e o circo”.


(Para ler a entrevista no Evidentemente)

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

VENEZUELA: CHAVISMO ELEGE 20 DOS 23 GOVERNADORES

Nicolás Maduro: "Uma vitória histórica, gigantesca; um presente de amor ao comandante Hugo Chávez" (Foto: AVN)
Por Jadson Oliveira, do blog Evidentemente
 
De Salvador (Bahia) – Enquanto o presidente Hugo Chávez tenta se livrar do câncer e se recupera da quarta cirurgia em Havana (Cuba), seus seguidores do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) conseguiram neste domingo, dia 16, uma expressiva vitória nas eleições para governadores dos estados: elegeram 20 dos 23 governantes, inclusive o de Zulia (Francisco Arias Cárdenas), o estado mais populoso e mais rico do país, que vem de sucessivos governos da oposição.

O triunfo chavista só não pode ser classificado de esmagador porque faltou tomar o estado de Miranda, o segundo mais populoso, que abrange parte de Caracas, o qual continuará nas mãos da direita: Henrique Capriles, governador de Miranda que tinha sido derrotado por Chávez no pleito presidencial de 7 de  outubro, conseguiu se reeleger, superando o candidato socialista Elías Jaua, ex-vice-presidente de Chávez e ex-ministro da Agricultura. Os outros dois estados ganhos pela oposição são Lara, que já estava com os oposicionistas, e Amazonas.

Mas o avanço dos chavistas foi indiscutível. Além do poderoso estado de Zulia (o candidato a presidente derrotado por Chávez em 2006, Manuel Rosales, era governador zuliano), o PSUV tomou mais quatro que são atualmente governados pela oposição: Carabobo, Nova Esparta, Táchira e Monagas. Quatro destes cinco estados (fica de fora Monagas) são tidos como estratégicos devido ao potencial econômico e a localização geográfica, especialmente Zulia, no noroeste do país, rico em petróleo e que faz fronteira com a Colômbia: seus governantes vinham sendo apontados pelo governo de Chávez como facilitadores da entrada de narcotraficantes e paramilitares no território venezuelano.

Ao saudar o triunfo chavista, Nicolás Maduro, presidente em exercício, disse que "hoje o povo premiou a verdade, a perseverança, e deu um presente de amor ao comandante Hugo Chávez”. Em contato telefônico com a estatal Venezuelana de Televisão (VTV), ele qualificou como "uma vitória histórica, gigantesca", enfatizando ter ficado demonstrado que “o povo apoia o programa da Pátria, que impulsiona a Revolução”.

Maduro, que além de vice-presidente é também chanceler da Venezuela, chamou a atenção para a realidade política que representa o placar de 20 governadores chavistas contra três opositores (O quadro geral hoje, antes da posse dos novos eleitos, é 15 governantes chavistas, sete anti-chavistas e um considerado independente).

Nomes conhecidos na política nacional estão entre os novos governadores eleitos, como Aristóbulo Istúriz, no estado de Anzoátegui, no norte do país; ele já foi ministro da Educação e atualmente é vice-presidente da Assembleia (Congresso) Nacional. Em Aragua foi eleito Tareck El Aissami, ex-ministro do Interior e Justiça. Adán Chávez, irmão mais velho de Chávez, foi reeleito em Barinas.

Em relação à eleição presidencial de 7 de outubro, quando votaram 81% dos cerca de 19 milhões de eleitores, o comparecimento no domingo foi fraco: apenas 54% dos 17,4 milhões aptos a votar (ficaram de fora os mais de 2 milhões do maior município de Caracas, de nome Libertador, cujo prefeito é chavista).

Tais resultados foram anunciados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE, equivalente ao nosso TSE) pouco depois das 9 horas da noite de ontem (hora de Caracas – 11:30 horas de Brasília), com base na totalização de 94,82% dos votos. O CNE avisou que os números referentes aos estados de Amazonas e Bolívar ainda não eram irreversíveis. Faltava ainda a divulgação da apuração dos votos que elegerão 237 legisladores dos estados (equivalem aos nossos deputados estaduais).

(Informações baseadas nos sítios da Agência Venezuelana de Notícias/AVN, da Venezuelana de Televisão/VTV, da TV Telesur e do Aporrea.org).
 
Jadson Oliveira é jornalista baiano e vive viajando pelo Brasil, América Latina e Caribe. Nos últimos seis meses esteve em Caracas (Venezuela), São Paulo e Havana (Cuba). Acaba de regressar a Salvador/Bahia. Mantém o blog Evidentemente - www.blogdejadson.blogspot.com . 

domingo, 16 de dezembro de 2012

Casaldáliga está ameaçado de morte

Por Leonardo Sakamoto, em seu blog:

Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia e um dos maiores defensores dos direitos humanos no país, mais uma vez está marcado para morrer Aos 84 anos e doente, teve que deixar sua casa em São Félix do Araguaia por conta das ameaças surgidas em decorrência do governo brasileiro, finalmente, ter começado a retirar os invasores da terra indígena Marãiwatsédé, Nordeste de Mato Grosso – ação que sempre foi defendida por ele.

Incentivados por fazendeiros e políticos locais, alguns grupos de invasores decidiram resistir à decisão judicial de sair e forçaram conflitos com as tropas, além de ameaçar lideranças.

Casaldáliga, junto com Tomás Balduíno, dois bispos engajados na luta pela dignidade no campo, serão homenageados, nesta segunda (17), na entrega do Prêmio Direitos Humanos 2012, em Brasília.

Joseph Ratzinger, em um discurso a bispos brasileiros na época da nossa última eleição presidencial, afirmou que “os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas”. Ou seja, Bento 16 pediu para que os representantes de sua igreja orientassem politicamente os fiéis. E seguiu o script esperado, condenando o aborto e a eutanásia e, implicitamente, a pesquisa com embriões para obtenção de células-tronco.

Todas as igrejas e suas chefias são livres para elencar seus assuntos mais importantes. Mas fico imaginando a pauta de preocupações se, ao invés de Joseph Ratzinger, fosse Pedro Casaldáliga o papa. E, ao se dirigir a bispos brasileiros, fizesse outro tipo de “juízo moral” em “matérias políticas”, retomando palavras que ele proferiu há tempos:

“Malditas sejam todas as cercas! Malditas todas as propriedades privadas que nos privam de viver e amar! Malditas sejam todas as leis amanhadas por umas poucas mãos para ampararem cercas e bois, fazerem a terra escrava e escravos os humanos.”

A Teologia da Libertação tem sido uma pedra no sapato de quem lucra com a exploração do seu semelhante. Na prática, esses religiosos católicos realizam a fé que a Santa Sé não consegue colocar em prática. Pessoas como Pedro Casaldáliga, Tomás Balduíno, Henri des Roziers, Erwin Klautler e Xavier Plassat que estão junto ao povo, no meio da Amazônia, defendendo o direito à terra e à liberdade, combatendo o trabalho escravo e acolhendo camponeses, quilombolas, indígenas e demais excluídos da sociedade.

Bento 16, no mesmo discurso, defendeu a solidariedade aos pobres e desamparados. Como ex-coroinha, fico pensando em que tipo de solidariedade ele estava falando? Da caridade? Uma ação pouco útil, que consola mais a alma daquele que doa do que o corpo daquele que recebe?

Ou da solidariedade de reconhecer no outro um semelhante e caminhar junto a ele pela libertação da alma e do corpo de ambos? Se for a primeira, ele está pregando a continuidade de uma igreja que ainda não consegue entender as palavras revolucionárias que estão no alicerce de sua própria fundação.

Se falou da segunda, a solidariedade como redenção do corpo e da alma, ele se referiu claramente à Teologia da Libertação.

Prefiro acreditar que ele estava falando da primeira, pois seria irônico a atual administração do Vaticano pregar algo que o catolicismo vem combatendo há tempos.

Enquanto isso, nossa realidade continua lembrando muito daqueles microcosmos de poder do Brasil profundo, presentes nas obras de Dias Gomes: o padre, o delegado e o coronel, amigos de primeira hora, tomando uma cachacinha na (ainda) Casa-grande, gargalhando da vida e discutindo sobre os desígnios do mundo, que – para eles – deveria ter a cara de seu vilarejo
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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A casa de Oscar



Poema de Chico Buarque

A casa do Oscar era o sonho da família. Havia o terreno para os lados da Iguatemi, havia o anteprojeto, presente do próprio, havia a promessa de que um belo dia iríamos morar na casa do Oscar. Cresci cheio de impaciência porque meu pai, embora fosse dono do Museu do Ipiranga, nunca juntava dinheiro para construir a casa do Oscar. Mais tarde, num aperto, em vez de vender o museu com os cacarecos dentro, papai vendeu o terreno da Iguatemi. Desse modo a casa do Oscar, antes de existir, foi demolida. Ou ficou intacta, suspensa no ar, como a casa no beco de Manuel Bandeira.
Senti-me traído, tornei-me um rebelde, insultei meu pai, ergui o braço contra minha mãe e sai batendo a porta da nossa casa velha e normanda: só volto para casa quando for a casa do Oscar! Pois bem, internaram-me num ginásio em Cataguazes, projeto do Oscar. Vivi seis meses naquale casarão do Oscar, achei pouco, decidi-me a ser Oscar eu mesmo. Regressei a São Paulo, estudei geometria descritiva, passei no vestibular e fui o pior aluno da classe. Mas ao professor de topografia, que me reprovou no exame oral, respondi calado: lá em casa tenho um canudo com a casa do Oscar.
Depois larguei a arquitetura e virei aprendiz de Tom Jobim. Quando a minha música sai boa, penso que parece música do Tom Jobim. Música do Tom, na minha cabeça, é a casa do Oscar