Marcha por Chávez, pelo poder popular e contra o terrorismo midiático (Fotos: Jadson Oliveira) |
A advertência é dos representantes dos meios de comunicação alternativos e comunitários, que marcharam pelas ruas de Caracas na quarta, dia 27
Por Jadson Oliveira, do blog Evidentemente
De Caracas (Venezuela) - Com um discurso politicamente avançado – comunicação a serviço da revolução, do poder popular e do socialismo -, os chamados comunicadores populares marcharam na quarta-feira, dia 27, pelas ruas de Caracas, e deixaram no ar a advertência: se as forças da oposição venezuelana avançarem em ações desestabilizadoras e golpistas, a resposta será a ocupação e o confisco de meios das corporações privadas, hoje o braço mais visível e organizado da direita (o mais visado de tais meios é a TV Globovisión, que os chavistas chamam Globoterror).
Foram ao redor de duas mil pessoas que atuam nos cerca de 600 veículos alternativos e comunitários de todo o país (rádios, TVs, jornais e “páginas Web”/Internet), todos engajados na campanha pela reeleição, no dia 7 de outubro, do presidente Hugo Chávez, mencionado sempre como “comandante”. Desfilaram – com cartazes, bandeiras, discursos, músicas e muito barulho – da Praça Venezuela (nome de uma praça e também de uma área da cidade) até as imediações do Palácio Miraflores, sede do governo, no centro, na Avenida Urdaneta, ao lado da Catedral de Caracas (uma distância servida por cinco estações do metrô).
Aí falaram os representantes dos 24 estados (incluindo o Distrito Capital), apresentaram músicas e peça teatral malhando o “terrorismo midiático capitalista” e leram o documento assinado pelo Comando Nacional da Comunicação Popular Missão 7 de Outubro, onde expressam suas posições sobre o novo Projeto de Lei de Comunicação Popular, atualmente em discussão.
A coluna encoberta na curva da descida da Avenida Libertador |
Os cerca de 2 mil manifestantes chegando ao centro da cidade, no início da tarde |
Os comunicadores populares elogiam o projeto e as propostas do programa de governo de Chávez para o setor, mas reivindicam uma participação maior no Conselho Nacional de Comunicação Popular e a redistribuição do espaço radioelétrico, com predomínio dos comunitários sobre os meios dos sistemas privado e estatal. O documento foi entregue formalmente à vice-ministra de Comunicação, Lídice Altuve, no palanque, para ser encaminhado à Presidência.
O documento e os pronunciamentos estão inseridos na orientação geral de se construir um sistema público nacional de comunicação nas mãos do Poder Popular (assim com P maiúsculo), das comunidades, das comunas e dos movimentos sociais do “nuestro pueblo”.
O risco de golpe de Estado volta com força na “nuestra América”
O tema do golpismo foi realçado pela manifestação de solidariedade aos povos do Paraguai (vítima de um golpe de Estado “parlamentar” na sexta-feira passada, dia 22) e da Bolívia, que acabou de passar por seis dias de turbulência com uma greve de policiais, no bojo da qual o governo de Evo Morales identificou nova tentativa de golpe (o país já vem de recente ameaça golpista, bem mais forte, em 2008).
É, na verdade, um tema sempre presente na conjuntura venezuelana nesses quase 14 anos de poder de Chávez, especialmente agora às vésperas de eleições (todos os dias são lembrados o golpe e o contra-golpe popular de 11 e 13 de abril/2002). O candidato de oposição Henrique Capriles se nega a reconhecer a imparcialidade do “árbitro da partida” (o Conselho Nacional Eleitoral/CNE, o nosso TSE), o que gera denúncias de tentativas de desestabilização e golpe, principalmente em decorrência do aparente favoritismo dos bolivarianos na corrida presidencial. Daí a advertência dos comunicadores populares na abertura desta matéria.
A concentração a 300 metros do Palácio Miraflores, sede do governo |
Na altura do Parque Carabobo: discursos, músicas e muito barulho em todo percurso |
O risco de golpe de Estado, aliás, voltou a poluir os ares e as mentes da “nuestra América” em plena era da integração soberana, depois da derrubada do presidente paraguaio Fernando Lugo com “embalagem legalista”, como disse o presidente equatoriano Rafael Correa. O que mostra que as velhas oligarquias latino-americanas e seu eterno tutor, o império estadunidense, se reciclaram (o projeto piloto talvez tenha sido o golpe de Honduras, em 2009).
E para que a esquerda da América Latina não seja acusada de estar sonhando – acusação que já lhe foi feita nos anos 60 e 70 com bons motivos -, é bastante lembrar, além dos casos referidos acima, outras tentativas recentes de golpe contra governos considerados progressistas: na Argentina, em 2008 (revolta dos ruralistas); no Equador, em 2010, a partir de movimento de policiais como agora na Bolívia; e no Brasil, em 2005, com o episódio disseminado pelos monopólios privados da velha mídia com o nome de “mensalão”, cuja denúncia acaba de ser reforçada pelo governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, em artigo divulgado no portal Carta Maior.
Voltando aos nossos comunicadores bolivarianos: a marcha de ontem (27) deu-se no Dia Nacional dos Jornalistas. “Num dia como ontem do ano de 1818”, como dizem por aqui, Simón Bolívar fundou o jornal Correo del Orinoco, denominado pelo próprio Libertador de “A artilharia do pensamento”. Daí o dia em homenagem aos jornalistas. Em 2009, o governo de Chávez fez renascer o jornal que continua circulando, diário, estatal, com o mesmo nome e a mesma consigna.
Jadson Oliveira é jornalista baiano e vive viajando pelo Brasil, América Latina e Caribe. Atualmente está em Caracas (Venezuela). Mantém o blog Evidentemente - www.blogdejadson.blogspot.com .
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