Via Blog Jornalismo B por Rodrigo Cardia*
O STF condenou o ex-ministro José Dirceu
pelo crime de corrupção ativa, na última terça-feira. Foram oito votos a
favor da condenação, e dois contrários. Porém, na prática Dirceu já
estava condenado desde 2005. Já tinha sido julgado pelo quarto poder,
que não existe de direito, mas sim de fato: a mídia hegemônica. Foi ela
que o condenou sete anos atrás, assim como já fez em outros diversos
episódios, como no caso do assassinato da menina Isabella (o casal
Nardoni foi condenado pela Justiça em 2010, mas na prática já o fora em
2008, pela imprensa, antes mesmo da própria polícia chegar a uma
conclusão).
As capas de alguns jornais da quarta dão
uma amostra do quão satisfeita ficou a imprensa em geral pela
“confirmação” de sua sentença pelo STF. Alguns veículos foram mais
comedidos, já outros não conseguiram disfarçar a sensação de “dever
cumprido”.
A capa mais imparcial é a do Correio Braziliense.
A manchete principal é “Como fica o PT após a condenação de Dirceu”, ou
seja, se propondo a fazer uma análise sobre o futuro do partido após a
sentença dada a um de seus nomes mais importantes.
O Estado de S. Paulo estampou
“Supremo condena Dirceu” em sua manchete, com uma foto do ex-ministro
ilustrando a matéria. Suprema ironia: esta capa, de um dos raros jornais
brasileiros que não escondem seu posicionamento conservador, é bem mais
imparcial que as da maioria dos jornais que se dizem imparciais.
Um pouco menos comedida que a do Estadão, a capa de O Globo
estampou “STF condena Dirceu por comandar o mensalão”. Com uma foto de
Brasília que mostra a estátua que simboliza a Justiça, mais um arco-íris
tendo como fundo nuvens de chuva, sinal de que “abriu sol” em meio a
uma tempestade. Ou seja, algo positivo. Fica a pergunta: e se Dirceu
tivesse sido absolvido, teríamos uma foto tão “alentadora”?
Zero Hora e Estado de Minas
usam manchetes semelhantes – o jornal gaúcho usa “Condenado”, no
singular, referindo-se a Dirceu (que aparece em foto com a cabeça
abaixada, como um “derrotado”); já o diário mineiro usa o plural,
lembrando que José Genoíno e Delúbio Soares também foram condenados
(embora o destaque seja Dirceu).
A Folha de S. Paulo, que ao contrário do Estadão
se afirma “imparcial”, estampou em letras garrafais: “Culpados”,
referindo-se a Dirceu (que novamente é o destaque da capa), Genoíno e
Delúbio. Mais do que notícia, foi juízo de valor: muitas vezes inocentes
são condenados. Ou seja, “condenado” e “culpado” não são sinônimos, por
mais culpado que seja um condenado.
A capa da Folha, porém, é bem comedida em comparação com a do Diário de Pernambuco. Ao invés de “condenado” ou “culpado”, o jornal pernambucano diz: “Corrupto”, com a foto de Dirceu ao fundo.
Por fim, uma capa aparentemente “neutra”, mas que esconde uma “sacanagem”. O jornal A Tarde,
de Salvador, tem como manchete “Dirceu é condenado por corrupção” – que
é, realmente, o que aconteceu. Porém, a principal foto da capa desmonta
a suposta “imparcialidade”: Joaquim Barbosa abaixo, um crucifixo acima,
e no meio a chamada para a matéria no corpo do jornal – “Não
perdoai-vos, Pai!”. Ou seja: para o jornal baiano, o STF tinha o dever
de condenar os réus, confirmando assim a sentença dada pela imprensa há
sete anos. Aliás, era o que pensava em geral a mídia hegemônica – a
diferença é que A Tarde deixou isso explícito.
*Historiador e blogueiro
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