Via Blog Jornalismo B
Dois dias antes das eleições norte-americanas, marcadas para essa terça-feira, tivemos, no domingo, o segundo turno do processo eleitoral cubano.
A gigantesca cobertura da grande mídia brasileira sobre a disputa entre
Obama e Romney nos EUA contrapõe o silêncio absoluto a respeito do que
está acontecendo em Cuba, com a escolha dos candidatos pelo próprio povo
e a posterior eleição, na qual a quase totalidade dos cidadãos
comparece às urnas, mesmo sem que o voto seja obrigatório.
No que se
refere aos jornais do Rio Grande do Sul há ainda um agravante nesse
criminoso bloqueio midiático à realidade cubana. Estão em Cuba, nesse
momento, três repórteres de veículos gaúchos – Rosane de Oliveira, de
Zero Hora, Juremir Machado, do Correio do Povo e Oziris Marins, da Band.
Eles acompanham missão do Governo do Estado, em que diversos
empresários foram levados pelo governador Tarso Genro para iniciarem
relações com Cuba. Mesmo com essa presença de três jornalistas não saiu
sequer uma nota nos veículos lá representados a respeito do processo
eleitoral.
O Correio do
Povo dedicou quase uma página inteira às conversas entre empresários
gaúchos e o governo cubano (muito espaço para o padrão do jornal),
enquanto Zero Hora fez o mesmo em três páginas. Absolutamente nada sobre
a eleição. Quer dizer, não faltou espaço para falar de Cuba, mas foi um
espaço destinado apenas às vantagens econômicas que os empresários
gaúchos podem tirar dessa visita. Em sua coluna Juremir escreveu sobre
seu contato com o povo cubano, e, em algumas notas pontuadas por erros
de informação – causados, em parte, por pura má vontade e cinismo –
Rosane de Oliveira foi um pouco além das ações do empresariado – mas
muito pouco. Nada sobre o segundo turno eleitoral, mantido no domingo
apesar da destruição causada pelo furacão Sandy – sobre a qual também
não se falou nesse setor da mídia.
O silêncio
sobre a existência de eleições em Cuba é mais uma tentativa de manter o
imaginário do brasileiro médio sobre a “ditadura sanguinária” que,
segundo as oligarquias internacionais, existe em Cuba desde 1959, quando
a Revolução Cubana chegou ao poder. Ainda que Juremir Machado
certamente não pense assim, o Correio do Povo, para o qual escreve, nada
publicou sobre o democrático e limpo processo eleitoral cubano, assim
como o fez Zero Hora – cuja representante, Rosane de Oliveira, mostra em
seus escritos mais pessoais, chamados de “Diário de Havana”, seu
preconceito latente e seu olhar enviesado sobre a realidade cubana.
O silêncio é
um dos instrumentos fundamentais do bloqueio midiático armado sobre
Cuba como complemento necessário ao bloqueio econômico estadunidense.
Casos como esse tornam ainda mais flagrantes os ataques ao direito de
informação e à responsabilidade e à ética jornalística, resultados e
alimentos de um modelo midiático mais comprometido com interesses
financeiros do que com a verdade e o jornalismo.
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