Via Correio do Brasil
A luta para contar a história dos camponeses, mateiros, índios e
guerrilheiros do Araguaia é hoje o desafio travado na região de Marabá,
no sul do Pará. Apenas na cidade de São Domingos do Araguaia mais de 70
camponeses aguardam os julgamentos de seus processos de anistia.
Por Mariana Viel, de Marabá (PA), especial para o Vermelho
Além da reparação material, os camponeses esperam para contar ao Brasil a verdade sobre as torturas cometidas por agentes da ditadura militar durante a repressão à Guerrilha do Araguaia (1972-1975).
Por Mariana Viel, de Marabá (PA), especial para o Vermelho
Além da reparação material, os camponeses esperam para contar ao Brasil a verdade sobre as torturas cometidas por agentes da ditadura militar durante a repressão à Guerrilha do Araguaia (1972-1975).
No começo da noite desta quarta-feira (14), cerca de 50 camponeses
acompanharam uma reunião organizada pela Associação dos Torturados na
Guerrilha do Araguaia (ATGA). Durante o encontro o presidente da ATGA,
Sezostrys Alves da Costa, fez um informativo sobre o andamento dos
processos de reparação dos camponeses torturados. A previsão é que o
julgamento em bloco das ações de reparação seja realizado por uma
Caravana da Comissão de Anistia no começo de 2013.
O aposentado Antônio Abdias, preso e torturado por militares no
verão de 1974, faz parte do grupo que espera o restabelecimento da
verdade. Ele conta que durante as 48 horas em que esteve nas mãos
militares sofreu as mais diversas formas de torturas físicas e
psicológicas. Amarrado a uma camionete do Exército brasileiro – sem
roupa e calçado – ele e outros camponeses da região foram arrastados
pelo chão de terra. Antônio relata que teve as solas dos pés arrancadas e
um braço quebrado nas sessões de torturas. Ele também perdeu 55% da
audição em virtude dos golpes que levou na cabeça.
“Muita gente que eu conheço que sofreu naquela época já até morreu e
não recebeu nada. A riqueza do homem trabalhador, como eu sempre fui, é
o moral e isso não tem preço, mas acredito que nós vamos receber aquilo
que temos direito”.
Audiência pública
O representante do PCdoB no Grupo de Trabalho Araguaia (GTA) e
membro do Comitê Paraense pela Memória, Verdade, Paulo Fonteles Filho,
ressaltou a importância da união dos camponeses. No próximo sábado (17)
será realizada em Marabá uma audiência pública da Comissão Nacional da
Verdade para que os camponeses atingidos pela repressão possam relatar
as histórias de luta e sofrimento. “Falamos que as torturas, a pressão e
as ameaças aqui foram grandes, então temos que contar para eles essas
histórias para que as pessoas sejam anistiadas e reparadas. Quem mais
apanhou e sofreu com a ditadura militar foram os camponeses. O legado
dos guerrilheiros é um patrimônio do povo do Araguaia e essas histórias
precisam ser escritas”.
Através dos depoimentos e do trabalho de pesquisa na região
calculasse que mais de 350 camponeses perderam as vidas nesse processo
de repressão.
Além da participação de camponeses, indígenas e militantes de
direitos humanos, integrarão o encontro os representantes da Comissão
Nacional da Verdade, Maria Rita Kehl, Claudio Fonteles e Paulo Sérgio
Pinheiro.
A ATGA irá disponibilizar três ônibus para que os camponeses de São
Domingos do Araguaia e de São Geraldo do Araguaia e indígenas da tribo
Suruí possam participar do evento. Moradores de outras cidades da região
como Palestina do Pará e Brejo Grande também estão mobilizadas.
Outra frente de luta na região é pela localização dos restos mortais
dos guerrilheiros assassinados pelo Exército. Informações recentes de
ex-militares indicam que cerca de 14 ossadas de desaparecidos políticos
estão enterradas no cemitério Jardim da Saudade, em Marabá.
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