Por Jadson Oliveira
Walter Pinheiro (com microfone), presidente da ABI, na reunião de entidades baianas (Foto: Paula Fróes) |
De Salvador (Bahia) – Depois do vídeo que bombou na blogosfera mostrando a “repórter loira” achincalhando na TV Bandeirante (“Brasil Urgente”, versão Bahia) um jovem, negro e pobre, acusado de estuprador - episódio que motivou uma “carta aberta” dos jornalistas baianos -, setores da sociedade baiana voltaram a repudiar o chamado jornalismo baixaria – programas policialescos que grassam nas tardes das TVs da Bahia, cuja matriz principal talvez seja o mesmo “Brasil Urgente”, versão nacional, da mesma Band, comandado por José Luiz Datena.
(As cenas chocam o coração de quem tenha um mínimo de sensibilidade diante de situações ultrajantes do ser humano. Veja versão mais ampliada do mesmo vídeo em link abaixo).
Desta vez a manifestação de repúdio foi na Associação Bahiana de Imprensa (ABI), na manhã de ontem, dia 30, quando representantes de movimentos sociais (ABI, Ordem dos Advogados-OAB, sindicatos dos jornalistas e dos radialistas e entidades do movimento negro, dentre outros), por unanimidade, condenaram a orientação de tal tipo de programa, que é comum também em emissoras de rádio.
A convocação foi feita sob a consigna: “Liberdade de imprensa, sim! Violação de direitos humanos, não!” O vice-presidente da ABI, Ernesto Marques, foi enfático ao criticar o que este blog está chamando de “jornalismo baixaria”, a execração pública da pobreza, esse vale-tudo por audiência. Ele chamou a atenção para o absurdo de tais programas de rádio e TV estarem prestando tal desserviço à comunidade, quando todos sabem (ou deveriam saber) que as emissoras recebem concessões do governo federal para prestação de serviço público.
Ernesto Marques (na tribuna): TVs e rádios são concessões de serviço público (Foto: Paula Fróes) |
A direção da ABI fez uma representação ao Ministério Público (MP) estadual sobre a situação que ganhou grande visibilidade a partir do vídeo da “repórter loira” (seu nome é Mirella Cunha e o apresentador do programa chama-se Uziel Bueno, mas a maioria concorda que a ênfase das críticas não deve recair sobre a jovem repórter, que, talvez por inexperiência, foi com sede demais ao pote e acabou estigmatizada, também uma vítima). O MP está estudando o caso para ver as responsabilidades, o que inclui os dirigentes da Band, os quais, em nota oficial, prometeram “tomar todas as medidas disciplinares necessárias”, segundo reportagem do Portal Imprensa.
Também o Conselho da Comunidade Afrodescendente entrou no circuito. Vai se reunir na segunda-feira, dia 4. Há a expectativa de que reivindique, dentre outras coisas, direito de resposta à direção da Band – Bahia. Há ainda possibilidade de que se promova, por exemplo, campanha de denúncia e boicote contra anunciantes de programas desse tipo.
Tem mais do mesmo nas TVs baianas
O caso foi detonado, nacionalmente, pelo vídeo postado no Blog do Rovai (de Renato Rovai, editor da revista Fórum e da direção da AlterCOM - Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação), postagem inicial de 21/05/12.
Repito aqui (entre aspas), com pequenas modificações, trecho de postagem anterior deste Evidentemente:
“Tal ‘pérola’ do jornalismo baixaria, como está dito acima, é do programa "Brasil Urgente”, da Band - Bahia" (filhote do nacional comandado pelo Datena), apresentado por Uziel Bueno em dois horários: 13 horas e 16:50 horas, de segunda a sexta.
Mas tem mais do mesmo nas emissoras de TV da Bahia (e certamente não só da Bahia). Diariamente os telespectadores baianos são agredidos com humilhações e achincalhes perpetrados por "repórteres" que parecem participar de concurso para ver qual é capaz de maior baixaria. As vítimas, além dos assistentes e do jornalismo, são sempre negros e pobres, algemados, indefesos, de baixa ou nenhuma instrução escolar, acusados de algum delito, expostos à execração pública nas delegacias de polícia. É comum também em tais programas a exploração das misérias e tragédias da vida humana.
Registro pelo menos mais três programas que buscam audiência através dessa linha editorial:
"Balanço Geral", da TV Record Bahia (TV Itapoan), apresentado por Raimundo Varela (a partir das 7:15 da manhã, especialmente em "entrevistas" do "repórter" Adelson);
"Se liga Bocão", da mesma Record, comandado por Zé Eduardo, que tem dois horários no período da tarde;
"Na mira", da TV Aratu (repetidora do SBT), apresentado pela Loura (Analice Salles), também com dois horários, um perto do meio-dia e outro no início da noite”.
Mas tem mais do mesmo nas emissoras de TV da Bahia (e certamente não só da Bahia). Diariamente os telespectadores baianos são agredidos com humilhações e achincalhes perpetrados por "repórteres" que parecem participar de concurso para ver qual é capaz de maior baixaria. As vítimas, além dos assistentes e do jornalismo, são sempre negros e pobres, algemados, indefesos, de baixa ou nenhuma instrução escolar, acusados de algum delito, expostos à execração pública nas delegacias de polícia. É comum também em tais programas a exploração das misérias e tragédias da vida humana.
Registro pelo menos mais três programas que buscam audiência através dessa linha editorial:
"Balanço Geral", da TV Record Bahia (TV Itapoan), apresentado por Raimundo Varela (a partir das 7:15 da manhã, especialmente em "entrevistas" do "repórter" Adelson);
"Se liga Bocão", da mesma Record, comandado por Zé Eduardo, que tem dois horários no período da tarde;
"Na mira", da TV Aratu (repetidora do SBT), apresentado pela Loura (Analice Salles), também com dois horários, um perto do meio-dia e outro no início da noite”.
É isso aí, como diz o juiz Marcelo Semer, do blog Sem Juízo: “De que adianta o Estado tutelar a dignidade humana se ela é violada todo dia às seis da tarde em rede nacional?”
(Quem quiser ver o mesmo vídeo, mais ampliado, clique aqui: ele está lincado na matéria "A imprensa que estupra", de Eliane Brum, em sua coluna na revista Época, conforme postagem do Blog do Miro, de Altamiro Borges, de 30/05/12).
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