domingo, 20 de maio de 2012

Vereador Elias Vaz do PSOL e Carlinhos Cachoeira


 Via o Globo


BRASÍLIA - Um dos partidos mais combativos quando se trata de desvios éticos, o PSOL ainda não decidiu o que fará com o vereador e pré-candidato à prefeitura de Goiânia Elias Vaz. Filiado ao partido, ele é um dos vários políticos do estado de Goiás que teve gravadas conversas com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, preso em fevereiro pela Polícia Federal durante a Operação Monte Carlo.

O discurso ético, inclusive, o levou a ser chamado de "um Demóstenes diferenciado" por um dos integrantes da organização. A pedido do próprio vereador, ele será investigado pelo Conselho de Ética do partido, mas até o momento ele não foi ouvido para dar explicações sobre as suspeitas que recaem sobre ele.
Há pelo menos cinco telefonemas entre Cachoeira e Elias Vaz no ano passado que foram interceptados pela PF, dos dias 4 de julho, 10 de agosto, 13 de agosto, 15 de agosto e 18 de agosto. No primeiro deles, o bicheiro pede para Elias avisar ao jornalista, radialista e apresentador de TV Jorge Kajuru que ele não poderá ajudá-lo financeiramente. Cachoeira reclama que está “cheio de conta”, mas deixa claro que a situação é temporária:
— Assim que eu desafogar, eu volto a ajudá-lo, mas por enquanto não dá — diz Cachoeira.
— Tá bom, eu falo com ele — responde o vereador.
Em 18 de agosto, eles comentam uma decisão liminar da Justiça que mandou parar a obra de uma concessionária de veículos em Goiânia. Os dois ficam felizes com a notícia e comemoram. Além disso, há vários diálogos com outras pessoas em que o bicheiro fala de Elias.
Em 26 de março de 2011, Cachoeira conversa pelo telefone com outro vereador da cidade, Santana Gomes (então no PMDB, mas hoje filiado ao PSD). Cachoeira deixa claro que a eleição de Elias em 2012 é uma prioridade. O problema, diz Santana, é que dentre os vereadores cuja reeleição é interessante para o grupo, Elias é o mais ideológico e o “menos malandro”.
— Ocê e ele é os prioritários, né. Geovani já tem os votos dele. Azulinho tem os votos dele. O resto também tem os votos deles, uai. Agora, o Elias não tem voto, uai, concorda? — questiona o bicheiro, fazendo referências aos vereadores Geovani Antônio Barbosa (PSDB) e Pedro Azulão Júnior, o Azulinho (PSB).
Em 2008, Elias foi o vereador eleito com menos votos na cidade: 2.698 no total, ou 0,43% dos votos válidos. Houve candidato com mais do que o dobro de votos que não conseguiu se eleger. Elias se tornou vereador graças ao quociente eleitoral: ao somar os votos de todos os candidatos filiados ao PSOL mais os votos de legenda, o partido foi capaz de alcançar a quantidade mínima de votos para fazer pelo menos um vereador.
No mesmo telefonema, Santana compara Elias ao senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), apontado como principal ponte da quadrilha com o mundo político em Brasília. Antes das denúncias, os dois vinham se destacando pelo seu discurso ético, o que não passou despercebido por Santana.
— O Elias é um Demóstenes, só que um Demóstenes diferenciado, porque o Demóstenes conseguiu sobressair dentro desse processo. O Elias não conseguiu, não vai. Em cidade, dentro desse processo dele (o discurso ético), não consegue sobressair — diz Santana.
— Vou brigar por ele — responde Cachoeira.
No dia seguinte, os dois voltam a conversar pelo telefone e falam novamente da necessidade de eleger Elias.
— Mas precisa eleger ele. Ele não tem voto. Precisávamos arranjar um local aí para ele ganhar voto. Tem que ser lá no Detran — sugere Cachoeira.
Em 22 de abril, Cachoeira manda Santana falar para Elias parar de bater em algum contrato, que seria de interesse do contraventor.
— Eu só tenho medo do Elias falar besteira aí. Controla ele lá. Fala pra ele conversar na segunda, aí eu mesmo peço pra ele, tá — diz Cachoeira.
Quatro dias depois, Cachoeira se mostra consciente que a revelação dos vínculos entre ele e Elias podem comprometer seus próprios interesses. Nesse dia, o bicheiro, em outro telefonema com Santana, fala de uma obra contra a qual o Ministério Público é contra, o que o desagrada. Elias poderia ser útil por seus contatos com o Ministério Público.
— Essa história que eu te contei agora, ninguém deve saber nada não. Se não nós queimamos o Elias e o Elias também não vale nada para nós também — adverte o bicheiro.
A proximidade entre o contraventor e o vereador é tal que Elias Vaz já foi inclusive algumas vezes jogar bola na chácara de Cachoeira, na cidade de Anápolis. A relação dos dois é conhecida pelo menos desde março deste ano. Na época, o site Brasil 247 revelou que Cachoeira, Elias, Santana e Geovani, além do vereador Maurício Beraldo (PSDB), participaram em agosto do ano passado de uma reunião na casa de Santana. Dela também participou o chefe de gabinete da prefeitura de Goiânia, Cairo de Freitas. Em comum, além das ligações com o bicheiro, esses vereadores fazem oposição ao prefeito Paulo Garcia, do PT. O encontro teria por finalidade aproximar os dois lados, devido às denúncias feitas poucos dias antes por Elias Vaz, apontando irregularidades na compra de brinquedos para o Parque Mutirama, em Goiânia.
Os problemas com o vereador levou um grupo de 11 militantes do PSOL a pedir o afastamento de Elias da direção do partido. O diretório do PSOL no estado, no entanto, soltou uma nota assinada pelo presidente estadual do partido e membro da executiva nacional, Martiniano Cavalcante, refutando essa possibilidade.
“Na condição de presidente do PSOL em Goiás e membro da Executiva Nacional do partido, venho a público rechaçar a insidiosa iniciativa de um grupo de 11 pessoas que publicou uma nota solicitando o afastamento do vereador Elias Vaz da Direção do Psol, e que não reflete a posição dos cerca de 700 filiados ao PSol em Goiânia”, diz a nota, disponível no site do diretório estadual, que ainda informa: “O fato de existirem relações de conhecimento entre Elias e Carlos Cachoeira foi divulgado no início do mês de março pelo próprio Vereador e Dirigente do PSol, no jornal de maior circulação de Goiás, antes de ser explorado por qualquer pessoa”.
Ao GLOBO, o próprio Elias Vaz reconheceu que já falou por telefone e que já se encontrou com Cachoeira, inclusive na chácara dele em Anápolis. Mas disse que nunca atendeu aos interesses do bicheiro. Negou também que Cachoeira já tenha pedido alguma coisa para ele.
— Você tem que entender que o Carlinhos Cachoeira, aqui em Goiânia, ele era uma pessoa que não era clandestino. Era uma pessoa que tinha relações com pessoas do Judiciário, empresários, com a sociedade — afirmou Eliaz Vaz, acrescentando:
— Eu o conhecia, conversava com ele. Inclusive nunca neguei isso. Sempre admiti que eu o conhecia, nunca tive problema com isso. Mas nunca atendi os seus interesses.
O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), membro da CPMI que investiga as relações de Cachoeira com empresários e políticos, disse que o Conselho de Ética do partido vai apurar a situação do vereador e, caso fique comprovado que Elias se envolveu com Cachoeira, ele será punido. Segundo Randolfe, o partido não hesitará em investigar quem quer que seja na CPI e Elias Vaz está consciente disso.


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